quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Perdoa-me...


Quantas vezes já a ouviste? Quantas vezes já te tentaram roubar o coração e pintar-te cristais na íris do teu olhar com essa palavra?
Não te recordas… Descansa, não é grave. Encontrei muitos mais como tu.
Mas diz-me, quantas vezes a disseste? Quantas vezes a deixaste deslizar-te pela língua, mesmo em frente daquele que sentia culpa?
Não sabes… Desta vez, não posso sossegar-te.
Querias um perdão, esperas consegui-lo sem que o tivesses consentido, sem que tivesses cosido com a linha fina do arrependimento os rasgos das tuas falhas.
Deixa-me sussurrar-te algo ao ouvido: isso não é correcto. Sim, não te julgues perfeito, intocável. Também erraste, também fizeste outros chorar, além dos sorrisos que ensinaste; também provocaste feridas para lá daquelas que ajudaste a curar; também faltou em ti aquela palavra meiga e doce, aquela que a tua memória não encontra aí dentro.
Não, ninguém mo confessou, ninguém te caricaturou como um monstro cruel…sossega. Mas eu sei. Eu sei que falhaste. Sei-o, porque simplesmente seria impossível seres perfeito – como o somos, todos – sem imperfeições; porque se nunca tivesses errado não existiriam cicatrizes da vida em ti e, sim, serias invisível, vazio.
Levanta o olhar. Olha para mim, para o mundo que, como vês, é imperfeito mas nos permite olhar um para o outro. E não penses que nunca mais vais falhar. Pensa antes em como tapar as armadilhas que espalhas sem querer.
Pensa em como dizer essa palavra. Podes não ser capaz agora, compreendo. Mas, quem esperou por te ouvir, saberá reconhecer a demora.
E, acredita em mim, eles saberão…Perdoar.

sábado, 12 de setembro de 2009

O cheiro do Teatro - "Piaf"

O burburinho na sala faz-nos cócegas nos ouvidos. Mal se distinguem as vozes ou até mesmo as idades dos que nos rodeiam. Há sempre aquele entusiasmo antes do início.
As luzes são ainda intensas em volta de todo o espaço, só daqui a uns minutos os projectores no palco ganharão vida silenciando toda a plateia e deixando-a em escuridão.
Silêncio.
E então, de repente, rompendo do fundo do palco surge a por todos aguardada Édith Piaf. A sua voz preenche a sala, que entretanto se tornou pequena perante a sua figura magra mas emersa em prestígio.
Estamos no Teatro Politéama. E não, infelizmente, Piaf não ressurgiu das cinzas para uma última apresentação, é Sónia Lisboa quem se nos revela, vestindo o papel da grande cantora francesa – e mesmo, melhor de todos os tempos.
Como já seria de esperar para quem segue de perto os passos do grande Filipe Lá Féria – ou surpreendendo-se quem não tem esse costume – é-nos apresentada uma biografia viva da diva, uma oportunidade única, diria, de perscrutar, como um fã sem coragem de se aproximar do ídolo, toda a vida, trabalhos, concertos, amores – e foram tantos! – E desilusões desta intérprete de clássicos como “La vie en rose”.
Um elenco pequeno mas absolutamente talentoso, um guarda-roupa alusivo aos conturbados anos quarenta, acompanhados de perto pela segunda Grande Guerra, mas sempre envoltos no crescimento, ascensão e, mais tarde, declínio de Piaf.
Noémia Costa desliza pelo palco com mestria trazendo ao de cima a companheira de rua, a única amiga que nunca abandonou a protagonista. Certamente uma das grandes presenças em cena.
Um cenário simples, quase inexistente, contribui para o crescente intimismo da peça, revelador dos sentimentos profundos da cantora.
O espectáculo é findo ainda antes de completas as duas horas em cena. O público ganha de novo papel activo na plateia. De pé, absorvido ainda pelas vozes magníficas dos actores aplaude por longos minutos, de mãos levantadas no ar num gesto simbólico de agradecimento.
É por isto que vale a pena ir ao teatro: sente-se o cheiro da madeira do palco, o timbre das vozes, o reflexo das reacções nos quantos partilham a experiência connosco. No fundo, sentimos que fazemos parte do espectáculo.

Deixo-vos uma pequena amostra. Espero que desperte a curiosidade :)
http://www.youtube.com/watch?v=wsZIDXrA_aQ

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Escuta...


"O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem.
É por isso que existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis
e pessoas
incomparáveis"


F. Pessoa