
Olha… Sim, tu. Estou a falar contigo. Não interessa que não me conheças. Não importa que não consigas ver-me. Escuta-me apenas. Deixa que as sílabas que se soltam da minha voz te penetrem os ouvidos. Deixa que calem o silêncio que te rodeia.
Do que vamos falar? Dizem que o tempo é o assunto que os estranhos escolhem para abater a distância entre si. Nunca deste por ti a falar do frio que, há dias, não te deixa guardar o casaco na gaveta? Ou do calor que te faz beber litros de água, quando acordas de madrugada?
Acho que todos já o fizeram. Mas, mesmo assim, continuo a achar meio tolo que, ao estarmos ao lado de alguém de quem não sabemos nada, só queiramos descobrir a sua opinião sobre a meteorologia.
Podíamos falar de outro assunto. Pode ser?
Tens um segredo? Não, claro que não deves contar-me. Mas podes falar-me dele. Quando descobriste que era o teu segredo? O que é que sentes quando os outros falam sobre ele, sem saber que o guardas numa caixinha misteriosa?
Eu também tenho um segredo… Um dia, gostava que alguém o descobrisse, sabes. Para não pesar tanto, este baú que trago comigo para todos os lugares. Assim, podia partilha-lo; pousá-lo sobre as mãos de outra pessoa, enquanto descanso os músculos doridos de o carregar. Se quiseres, podes tentar. Eu gostava. Tu não?
Se eu tentasse descobrir o teu segredo, ajudavas-me a libertar o meu?
Também não se como se faz, mas se trabalharmos juntos, talvez se torne mais fácil. Amanha, quando voltar, prometo aproximar-me um pouco mais. O suficiente para conseguirmos ver o perfil um do outro. E daqui a uns dias, se vieres, estaremos perto o bastante para conhecer a cor dos olhos um do outro.
Prometo esperar. E tu?