domingo, 22 de maio de 2011

O teu segredo


Olha… Sim, tu. Estou a falar contigo. Não interessa que não me conheças. Não importa que não consigas ver-me. Escuta-me apenas. Deixa que as sílabas que se soltam da minha voz te penetrem os ouvidos. Deixa que calem o silêncio que te rodeia.
Do que vamos falar? Dizem que o tempo é o assunto que os estranhos escolhem para abater a distância entre si. Nunca deste por ti a falar do frio que, há dias, não te deixa guardar o casaco na gaveta? Ou do calor que te faz beber litros de água, quando acordas de madrugada?
Acho que todos já o fizeram. Mas, mesmo assim, continuo a achar meio tolo que, ao estarmos ao lado de alguém de quem não sabemos nada, só queiramos descobrir a sua opinião sobre a meteorologia.
Podíamos falar de outro assunto. Pode ser?
Tens um segredo? Não, claro que não deves contar-me. Mas podes falar-me dele. Quando descobriste que era o teu segredo? O que é que sentes quando os outros falam sobre ele, sem saber que o guardas numa caixinha misteriosa?
Eu também tenho um segredo… Um dia, gostava que alguém o descobrisse, sabes. Para não pesar tanto, este baú que trago comigo para todos os lugares. Assim, podia partilha-lo; pousá-lo sobre as mãos de outra pessoa, enquanto descanso os músculos doridos de o carregar. Se quiseres, podes tentar. Eu gostava. Tu não?
Se eu tentasse descobrir o teu segredo, ajudavas-me a libertar o meu?
Também não se como se faz, mas se trabalharmos juntos, talvez se torne mais fácil. Amanha, quando voltar, prometo aproximar-me um pouco mais. O suficiente para conseguirmos ver o perfil um do outro. E daqui a uns dias, se vieres, estaremos perto o bastante para conhecer a cor dos olhos um do outro.
Prometo esperar. E tu?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Arrisca


Vá, anda. Não fiques para trás. Junta-te a mim nesta caminhada.
Vem. Não precisas de correr. Não precisas de esforçar o teu passo lento. Peço-te apenas que venhas comigo. que não te percas para lá daquela curva que já mal consigo ver.
Olha para a estrada que se estende sob os teus pés magros. Para quê, essa cobardia que te prende o olhar ao chão? Lá em cima, o sol brilha para ti também. Sim, a tua pele também o merece; o teu olhar é espelho que o reflecte. Como o meu.
Só tens de querer. Para descolar os pés da paragem que inventaste, tens de querer. Repete para ti mesmo que és capaz. Escreve-o na pele, se achas que as palavras te darão mais força. Grita-o bem alto, se precisas de o ouvir de ti mesmo. Mas não desistas. Não deixes que a paisagem te passe à frente, enquanto descansas.
E se, por demorares mais um pouco, perderes a boleia, sorri. Ri-te, como se te fizessem cócegas. Não, não elouqueceste. Se perderes a boleia, acredita que o passeio será mais prazeiroso pelo teu pé.
Há sempre uma razão para tudo. Podes não compreendê-la agora, neste momento. Mas nunca deixes de procurar entender. Muitas vezes, a meio dessa busca, verás que sempre a soubeste.
Por isso, vem. Junta-tea mim. Não, eu não perdi a boleia que passou. Deixei-a simplesmente ir. Prefiro percorrer esta estrada como se fosse única. Descobri-la e não deixar que ela se desvende por completo. Sempre gostei do paladar adocicado dos mistérios.