sexta-feira, 24 de junho de 2011

Lembras-te?


Lembras-te de quando tinhas medo da trovoada? Daquelas noites em que só os relâmpagos iluminavam a tua solidão. As noites em que jurarias nunca vir a ter coragem de enfrentar o mundo, lá fora, sozinho.
Eu ainda me lembro de ver esse medo espelhado nos teus olhos. Recordo-me exactamente da timidez dos teus passos; da falta de voz nas tuas palavras. E tu? Ainda te lembras de quando baixaste, pela primeira vez, as tuas defesas mascaradas em altas muralhas, e me deixaste entrar no teu castelo poeirento?
Foi difícil achar-te. Esconderas-te no canto mais escuro e inacessível. Procurei-te durante horas, dias, talvez.
Lembras-te do momento em que me aproximei dos teus pés e te toquei a pele? Estava fria. Gelada. Parecias ausente de vida.
Atrás das minhas costas, soprava um vento que me arrepiava o corpo.
Tu não disseste nada. Fizeste-me entender que desejavas que te deixasse em paz. Mas não o fiz. Levantei-me e dei alguns passos até à parede oposta. Lá sentei-me de frente para ti e esperei. Esperei por um gesto. Um suspiro. Uma palavra. Nada em concreto, na verdade.
Sucederam-se noites estreladas, em que dormiste sossegado no teu canto. Não sei quanto tempo passou até que, numa madrugada, um trovão irrompeu no silêncio. O meu corpo tremeu.
Nunca to dissera, mas também eu sentia medo nas noites de tempestade. O meu coração estava acelerado e as minhas pálpebras não se descolavam receosas do que as esperava à sua frente.
Foi então que algo quente se encostou a mim. No início tive medo de mais para abrir os olhos. Mas depois, algo me tocou a mão e a acariciou.
Lembras-te?
Eu nunca esquecerei. Foi a primeira vez que o senti: o toque da tua pele. E a sua quentura aconchega-me, até hoje, nas noites de trovoada.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011