quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Por um momento


Não te escondas. Sim, tu. Eu sei que estás algures por aí, mesmo que prefiras não ser visto.
O mundo está à tua espera. Aqui. Só tens de deixar que o medo fique lá atrás, nesse lugar onde esvaziaste o olhar de esperança. Deixa que a vida te volte a sorrir e te abrace – primeiro, timidamente e só então com toda a sua força.
Mas para isso não podes esconder-te. Eu prometo estar aqui, sem me mexer, nem fazer perguntas. Ficarei aqui apenas para compreender as tuas palavras, mesmo que mudas, e aquecer a tua pele fria da chuva que caiu.
Só tens de afastar as memórias dessa noite em que os pesadelos te roubaram a segurança. Acredita que és capaz. Também eu o fui, porque serias tu diferente? Os sonhos vão voltar a preencher as tuas noites, mas primeiro, tens de querer voltar a sonhar. Vá, vem… É só mais um pequeno esforço, o último antes de poderes adormecer no meu abraço.
Não prometo fazer o medo desaparecer, mas, juntos, talvez consigamos mantê-lo distante. Confias em mim? Mostra-mo agora. Deixa-me provar que confio em ti.
Chega perto de mim. Só um pouco mais. Só o bastante para que, por um breve momento, sejamos um só. Para que, nesse momento, nada nem ninguém nos mantenha acordados num sono pintado com as cores dos pesadelos.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vens comigo até à praia?

[Como lidar com os obstáculos da vida]

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O mesmo?

Tenho a vaga sensação de já ter ouvido isto antes, de ter lido as mesmas palavras e sentido as mesmas emoções.
Mas, apesar de sentir que não é novo, isto é algo que não te posso explicar, ou fazer compreender. Talvez porque nem eu perceba o verdadeiro significado.
Tenho a sensação de já ter tropeçado nesta pedra, contido o choro pela dor da queda. Mas não me lembro quando ou como a superei. Só sei que me sinto a percorrer a mesma estrada, a escassos metros da mesma armadilha e sem capacidade para me afastar dela.
Talvez vá ser sempre assim. Talvez existam vidas esculpidas para se concretizarem desta forma; vidas em que o tempo parou, e o fim não foi escrito. Eu sei que posso escrevê-lo eu mesma. Só tenho de encontrar a caneta e uma folha branca. Mas e se já não restar nenhuma? E se me tiver esquecido de como escrever?
Podes procurar-me? Se te indicar o caminho, podes fazer com que a tua estrada se cruze acidentalmente com a minha?
Eu sei que é tão mais fácil fingir que esta sensação não tem importância. Fingir que não ouço a consciência a travar-me os passos. Mas, tenho ideia de nunca ter preferido o simples ao desafio. Não será agora.
Só preciso de descobrir onde está aquela armadilha que me travará a viagem. Tudo voltará ao normal quando a puder ver. Mas até lá, o medo atrasa-me os passos, e o silêncio grita-me no pensamento.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Make it count


"I got everything I need right here with me. I got air in my lungs, a few blank sheets of paper. I mean, I love waking up in the morning not knowing what's gonna happen or, who I'm gonna meet, where I'm gonna wind up.
I figure life's a gift and I don't intend on wasting it. You don't know what hand you're gonna get dealt next. You learn to take life as it comes at you... to make each day count."


Jack Downson in Titanic

domingo, 17 de outubro de 2010

Pensa nisto

"Só me sinto digna das minhas asas...

...se as utilizar para fazer os outros voarem."

in O vendedor de sonhos

domingo, 10 de outubro de 2010

O vendedor de sonhos


Quando a vida não te der razões para seguir em frente, não desistas. Volta simplesmente o rosto e tenta perceber o que mantém os outros a andar. Acho que é esta a melhor forma de resumir este livro.
O vendedor de sonhos é um livro que apela à nossa instrospecção e, acima de tudo, à nossa humanidade e humildade. A história começa no topo de um edifício, onde um homem, desesperado, vê no suicidio a saída para os seus problemas. Enquanto todos tentam confortá-lo surge uma personagem estranha - um dissidente da sociedade - que, ao contrário dos outros, não apela à sua calma, mas sim aos seus fantasmas.
A perturbação causada pelas suas palavras desperta um novo pensamento na mente daquele homem à beira da queda. De uma imagem de miséria, a sua visão sobre a vida, transforma-se numa imagem de esperança.
Este vai ser o primeiro seguidor daquele estranho homem que se intitula de vendedor de sonhos. Como ele, muitos outros passarão a caminhar pelas ruas como aprendizes de vendedores de sonhos. O objectivo? Afastar o egoísmo da sociedade e encorajar todos aqueles que perderam a vontade de viver.
Apesar de inicialmente se apresentarem repletos de preconceitos e estereótipos, a jornada sociológica e a presença do mestre transformá-los-ão em seres sem fronteiras. E aqueles que os vêem como loucos aprederão a maior lição da sua vida, porque aquilo que uma pessoa aparenta não faz de si aquilo que é.

Um livro para ler, mas essencialmente para reflectir, não só na nossa vida, mas na própria sociedade que de perfeita tem muito pouco.

domingo, 3 de outubro de 2010

Sensações


Diz-me o que vês. Sim, conta-me com palavras simples aquilo que vês quando olhas à tua volta; aquilo que vês quando olhas à tua volta e eu surjo no caminho.
Sabes que não quero que me descrevas. Quero apenas saber o que te faço sentir. Saber qual é a sensação que te empresto quando o meu perfil se cruza com o teu olhar.
Tal como quando olhas o céu e ele está azul. Não é só isso que vês, desfrutas de um conforto especial, Tal como quando provas algo extremamente doce. Os outros limitam-se a intitulá-lo de isso mesmo, doce, mas tu sentes algo mais, aquela é somente uma palavra inventada para descrever esse paladar.
Consegues dizer-me o que vês? Consegues passar para palavras essas sensações? Finge que nunca antes as vi ou senti. Fala-me como se eu fosse incapaz de as vivenciar.
Quero apenas saber como é para ti. Quero tão-somente conhecer a tua sensação de doce e a tua sensação de mim.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O que não nos pertence...


...é aquilo que nos torna completos.

domingo, 19 de setembro de 2010

Como salvar um coração partido


Lay me Down e Susan Richards nunca se tinham visto, mas, sem saberem, partilhavam um passado semelhante. A primeira, uma égua doente, vivera acostumada a maus tratos por parte dos que diariamente apostavam o seu galope em corridas. A segunda, uma mulher independente, que há muito se afastara de relações afectuosas, fechava-se numa personalidade solitária na qual os cavalos eram o seu único refúgio e segurança.

"Eu não sabia que dizer, como explicar o tamanho da minha dor. Parecia-me uma coisa demasiado particular, algo que só poderia contar ao meu irmão, uma pessoa que passara pelo mesmo que eu. Não sabia se mais alguém conseguiria compreender o que eu sentia. A minha vergonha não era racional, mas existia (...)" P. 177-178

Susan – a autora e, ao mesmo tempo, protagonista – fala-nos na primeira pessoa com um discurso simples mas marcado por uma grande carga emocional. À medida que vão sendo desvendados pormenores sobre a sua infância, Lay me Down surge como uma analogia da protagonista. O medo de perder aquela companheira transforma-se numa igual vontade de agarrar a vida de que há tanto se esquecera.

"Lay me Down dera-me o sentido de família (...) Tinhamo-nos uma à outra na minha herdade e conseguiriamos, pela primeira vez, libertar-nos dos nossos medos." P.178

A dependência do álcool é um elemento central na vida de Susan: primeiro representado pelo seu pai; depois pelos avós; e, mais tarde, pelo seu marido. E quando achava que o pesadelo a tinha finalmente abandonado, o passado volta, mergulhando-a a si também num ciclo vicioso que acabaria numa reunião dos Alcoólicos Anónimos.
Com Lay me Down esta mulher fria, que nunca ultrapassara a morte precoce da sua mãe com leucemia, descobre que o seu oração ainda é capaz de amar. Mais que isso, aquela égua doente ensina-lhe que é possível recuperar a confiança nas outras pessoas.
Um testemunho tocante sobre os laços que unem humanos e animais e sobre a forma como estes podem afastar traumas que nenhuma outra pessoa imagina escondermos dentro de nós.

"Mais tarde não me conseguia lembrar da reunião (...) mas a verdadeira surpresa foi que deixei de beber. Não por causa dos AA, mas porque, depois de uma noite sem beber, queria ver se conseguia duas, depois três e assim por diante. Era um jogo, como aprender a suster a respiração debaixo de água (...) Subitamente somos capazes de fazer uma piscina inteira sem respirar e pensamos que é espantoso até quebrarmos o nosso próprio recorde ao fazermos duas. (...) No entanto, só me pareceu um jogo nas primeiras semanas. O vazio da minha vida, criado pela falta de bebida, era maior do que tudo o que eu experimentara." P. 76

sábado, 11 de setembro de 2010

Quando chegares, saberás


“Quando chegares, saberás”. Fora o que ela lhe dissera. Faltara só explicar como teria essa certeza. Como saberia que aquele era o lugar, aquela a altura certa.
Ela mostrara-lhe como nunca perder o rumo, como recuperar o calor quando o frio se tornasse rachante e como refrescar a pele quando o calor lhe apertasse o corpo.
Lembrava-se de todas essas palavras, de todos os conselhos que havia acrescentado à sua mochila que, no entanto, permanecera leve. Ela não contivera nenhum sentimento: não escondera a tristeza por vê-lo partir, nem a necessidade de sabê-lo bem sucedido. Planeara consigo todos os pormenores. Juntos haviam traçado a rota que agora os seus pés cumpriam. Tinham projectado aquele caminho como se ambos o fossem desbravar, inventando as melhores formas de vencer os obstáculos e marcando no mapa os locais onde seria melhor descansar.
Ela fora – e, estranhamente continuava a ser – a sua companheira. Desde o início.
Mas, agora, quando sentia um sorriso nascer nos seus lábios por tudo o que corria bem, ou quando o desespero o atormentava ao sentir-se perdido, ela não estava presente. O caminho que, na sua presença, parecera simples tornava-se dissimulado. E, quando se esforçava por recordar as palavras que ela deixara para esses momentos, tinha a sensação de não restar nenhuma. Talvez porque ela pensara realmente partir com ele. Ou, talvez, porque ele tinha mantido a esperança de que ela viria.
Ajeitou a mochila e olhou o céu. Estava azul, exageradamente para aquela altura do ano. Soprava um vento forte que o ajudava a manter-se em andamento, empurrando as suas costas.
Naquela solidão, rodeado unicamente por aquele ambiente desconhecido, era fácil questionar o que o mantinha na estrada. Mas aquelas palavras voltavam sempre nessas alturas. Ressuscitavam de cada vez que o simples caminhar não era razão suficiente. E então, ele respirava profundamente e continuava, porque algo dentro de si lhe dizia que ainda não tinha chegado – e ela, onde quer que estivesse, sabia-o também.

sábado, 4 de setembro de 2010

Desculpa, mas vou chamar-te amor


Niki e Alex vivem duas vidas que nunca ambicionaram cruzar-se. Entre eles existem amigos diferentes, ideias opostas, sonhos construídos sobre dois quotidianos que em pouco se tocam.
Em comum, têm um sentimento que, mesmo sendo ambiguo, une os seus corações - Niki e Alex amam-se.
A separá-los estão vinte anos.
Niki é uma estudante de 17 anos. Passeia pelas ruas de Itália aparentando jovialidade, rebeldia e beleza. Quando, num acidente, a sua mota choca com o carro de Alessandro, um director criativo de publicidade de quase 37 anos, nada fazia prever que, em poucos dias, partilharia o seu quarto.

Não há uma forma racional para explicar o envolvimento das duas personagens. A história desenrola-se a um ritmo acelerado mas que, ao mesmo tempo, se desenvolve sem espaço para hesitações.
Niki vai ajudar Alex no seu grande projecto publicitário, tornando-se a sua rapariga dos jasmins, e Alex dará a esta jovem a estabilidade necessária para que ela se transforme numa mulher adulta.

Um estilo de escrita em que predomina a imagem, - ou não fosse Federico Moccia, o autor, um conceituado realizador italiano - e onde a vida urbana é elemento central.
Este não é um livro sobre relações perfeitas e sentimentos arrebatadores. Pelo contrário, demonstra de forma simples que não são os anos de diferença que separam as pessoas, mas sim as mentalidades.

domingo, 29 de agosto de 2010

Distância


Hoje, enquanto caminhava por aquela estrada deserta, houve uma palavra que cortou o silêncio, fugida da melodia que se desdobrava pela minha mente.
Olhei vagamente em meu redor e tentei com força perceber o seu significado ali, naquele preciso contexto.
Distância. Será que estarei distante somente daquilo que se encontra longe? E o que é estar longe? A partir de que ponto te considero perto de mais?
Continuei a caminhar. Para trás ficava um ligeiro sulco no chão, onde se diferenciavam as minhas pegadas. Estava a afastar-me delas, a construir um espaço entre o meu corpo e elas. Mas, e se, no meu pensamento, o meu corpo ali continuasse? Se na minha mente eu não tivesse dado um único passo, será que essa distância se anularia?
Pensei em ti. Não estavas em nenhum dos ângulos do meu olhar. Claro que não. Estás longe, desde o dia em que o caminho nos separou os corpos. Mas e se as almas estiverem próximas, se sentir que me tocas, como se aqui estivesses, onde fica a distância?
Continuo a andar. As minhas pegadas ficam já para lá daquela curva. Já não as posso ver. Estão longe, tal como tu. A elas mal consigo imaginar os traços. O espaço que se prolonga entre o meu corpo e aquela curva foi suficiente para as esquecer. A distância ganhou.
A ti, porém, sinto-te.
Percebo que há coisas que essa palavra não separa. Pergunto-me como é possível que um simples conjunto de letras perfeitamente conjugadas seja capaz de afastar lugares, apertar abraços, roubar, de um instante para outro, aquilo que temos perto.
Mas julgo que o importante não é o espaço físico. O que realmente conta é o abstracto, aquele que só eu tenho o poder de construir. Aquele que me permite estar perto daquilo que fica longe, e fugir daquilo que ameaça tocar-me, mesmo que para os outros, permaneça a quilómetros de distância.

domingo, 8 de agosto de 2010

Inspiração

[À espera de inspiração]

domingo, 25 de julho de 2010

You don't need strength to be strong


Hoje vi-te do outro lado do caminho. Caminhavas sozinho, arrastavas os passos pela areia que estava espalhada pela estrada. Arrastavas o mundo contigo, tentando equilibrá-lo sobre os teus ombros magros.
Sei que não me viste. Ias demasiado ocupado em não desviar-te da recta imaginária que os teus olhos traçavam. Mas eu sim. Eu vi-te como se descobrisse uma outra alma no corpo que há tanto conhecia. Tinhas o mesmo andar compassado; aquele ligeiro agitar de ombros; aquele jeito de te pores quase em bicos de pé enquanto descolavas o calcanhar do chão.
Nisso tudo eras tu. Mas o teu rosto parecia envolto numa máscara. Parecias caminhar despido, sem o teu mistério. Porque é que te esqueceste de como levantar o rosto?
Fiquei a ver-te durante largos momentos. O tempo suficiente para ter a certeza de que eras tu, mas não o bastante para perceber o teu coração. Até que a inclinação do caminho te escondeu.
Sei que pensas que não terias força para sequer voltar o rosto, mesmo que te tocasse as costas. Mas tem-la. Trazes em ti uma força que não sonhas existir. Guarda-la confiante de que nunca terás de a procurar. Mas repara: caminhas há horas, independente de toda a vida que te contorna. Não sentes força para erguer o pescoço, mas és forte o suficiente para suportar essa dor causada pela fuga.
E eu sei que esse caminhar te deixa exausto. Sei que essa solidão te faz brilhar os olhos quanto te encontras sozinho e perdido. Não ignores os que te olham. Não jures que a vida te moldou os traços. Por mais que procures encontrar-te por essa estrada desconhecida, lembra-te de que só te sentirás seguro quando a tua pele tocar algo familiar.
Sim, às vezes, para seguir em frente também é preciso olhar para trás...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Depois De Tu Partires



O que é que nos resta quando, depois de perdermos aquilo que nos mantém vivos, descobrimos que nunca o nosso corpo deveria ter respirado?

Como podemos coordenar os passos pela estrada se esquecemos como se caminha ou desconhecemos quem nos ensinou?

Alice é uma jovem escocesa que se mudou para Londres assim que a idade o permitiu. Uma infância rebelde e uma família que raramente se esforçou por dizer a verdade fizeram dela uma pessoa independente e racional de mais para depender de algúem. Até que John, um jovem jornalista, surge na sua vida e a torna, por fim, completa. Envolvem-se numa relação estranha mas profundamente apaixonada. Em pouco tempo tudo nas suas vidas se interliga de uma forma intensa e irremediavelmente inesquecivel e insubstituivel.

Depois de tu partires é uma história sobre laços: aqueles que se perdem e os que se criam tarde de mais. Contada pela voz do subconsciente de Alice, que paira entre a vida e a morte, revela-nos flashs da sua infância, momentos que nos ajudam a compreender a desistência - ou não - de Alice pela vida.

Este é um livro que nos emerge na vida da personagem, remetendo-nos para as suas dúvidas e medos, num discurso profundamente tocante sobre a dor da perda, o vazio e a forma como os erros do passado podem intrometer-se no presente, mudando bruscamente o destino dos acontecimentos.

Uma viagem perturbadora pelo estado de coma de Alice e sua busca por abrir os olhos.

"Ainda não consigo acreditar que partiste. Antes de isto acontecer, costumava acordar e interrogar-me durante uma fracção de segundo por que motivo tinha este peso, este desgosto a comprimir-me o peito e por que motivo a minha almofada estava molhada. Costumava esquecer-me disso, porque achava que seria simplesmente absurdo estar sem ti. Aburdo."

sexta-feira, 9 de julho de 2010

...

[Traz sempre contigo um abraço. Nunca se sabe quando vais precisar dele.]

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Horizonte


O que é que vês quando olhas o horizonte?
Quando pousas o olhar sobre a linha que separa o céu da terra, o que é que sentes?
Deixa-me falar-te daquilo que os meus olhos reflectem. Quando olho o horizonte penso no futuro. Imagino os anos que se escondem nas manhãs que estão por acordar. Imagino sorrisos e sonhos que esvoaçam aprisionados em bolas de sabão transparentes.
E tu?
De cada vez que me sento na praia a olhar o horizonte tenho a estranha sensação de que, um dia, estarei lá, do outro lado. Sim, é isso mesmo. Imagino que, no futuro, terei caminhado até à linha inatingível do horizonte e estarei, tal como agora, a observar o lado de cá e os tantos que constroem o futuro.
Vá, conta-me o que vês…
Talvez um dia, quem sabe, possamos tocar juntos o horizonte que hoje olhamos separados. Eu não sei o futuro, deixa que o idealize, que brinque com ele.
No fundo, acho que é isso que vejo quando observo a ponta que me separa do infinito. Consigo ver aquilo que unicamente ganha vida nos meus sonhos. Acho que é por isso que todos se fixam nesse ponto. Lá tudo é possível.
Não achas?

domingo, 20 de junho de 2010

(In)Certezas

[A perfeita certeza da incerteza]

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O menino e o cavalo


Desta vez vou tentar não escrever de forma elaborada. Primeiro, porque de complexa já esta história tem muito, e, depois, porque há coisas que não precisam de palavras bonitas para se tornarem maravilhosas.
Este livro conta a história de uma família. Uma família em tudo igual a todas as nossas. Têm uma casa, uma vida, planos para o futuro. Algures no decorrer do seu casamento, nasce Rowan, um menino meigo e alegre que se desenvolve normalmente até completar três anos de idade. É nessa altura, que toda a “normalidade” desta família se transforma num emaranhado de diferença. Rowan é autista.
O período de revolta e vergonha passa, mas permanece a dor. Uma mágoa incontrolável por saberem que o seu filho nunca poderia dar-lhes alegrias tão simples, como simplesmente passear de mãos dadas, ou manter uma conversa coerente.
Mas este livro não conta essa história. Este livro é sobre esperança e sobre a capacidade de seguirmos o nosso instinto, se achamos que ele nos levará ao rumo correcto. Mesmo que aquilo que ele nos diga pareça uma loucura.
Este livro descreve a viagem que esta família fez até à região desconhecida da Mongólia. Uma zona virgem, onde consta terem nascido as primeiras espécies de cavalos. Rowan e os seus pais procuram ali o contacto com os cavalos, mas mais que isso, o contacto com as comunidades de xamãs. Procuram nas suas terapias realizadas à base se rituais naturais, uma forma de diminuir o grau de autismo da criança.
Não vou dizer a forma como a história acaba, mas posso dizer que, apesar de bastante céptica em relação a curandeiros, mudei completa e profundamente a minha visão sobre estes povos. Eu acredito na equitação com fins terapêuticos e este livro só veio fortificar a minha crença. Mas agora, passei a acreditar que há outras formas de terapia. Há coisas que simplesmente não se explicam e esta é uma delas.
Importa acrescentar que esta é uma história verídica. Durante a viagem um câmara acompanhou a família e gravou toda a evolução de Rowan, de forma a produzirem um documentário, caso se registassem mudanças no seu comportamento. Quem não tiver tempo para ler o livro, pelo menos dispense um bocadinho a ver o documentário. Garanto que vai mudar a vossa forma de ver muitas coisas.
Simplesmente uma das leituras mais comoventes que me passou pelos dedos...
[O site só deixa ver 72 minutos de cada vez. Para ver o fim do documentário é preciso esperar cerca de 20 minutos. Mas vale mesmo a pena ver como a história termina.]

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quanto tempo demora um segundo?


Quanto tempo demora um segundo? Sabes?
Quantos segundos guardam uma inspiração? Daquelas profundas. Podemos contar juntos? Chega perto de mim, então. Aproxima-te o suficiente para que, sem nos tocarmos, consigamos sentir o suspiro um do outro. Quando estiveres pronto, diz-me.
Agora? Então fecha os olhos, tal como eu farei. E, quando a próxima lufada de ar pairar sobre o teu rosto, sorve-a.
Abrimos os olhos. Então, contaste? Quanto tempo demora o ar a percorrer-nos o corpo? O corpo todo, todos os recantos que nem sabemos existirem. Respondes-me com números. Falas-me em dois, ou três segundos, não me recordo perfeitamente. Fico um tanto ou quanto desiludida, não posso negar-te. Afinal, de que forma posso perceber o que isso significa, sem que me expliques quanto dura essa medida de tempo que usas sem questionar?
Mostras-me o teu relógio. Aquele objecto que usas no pulso esquerdo e que, ao aproximar-se do meu ouvido, emite um tic-tac constante. Explicas-me que um segundo corresponde à distância que um dos ponteiros, aquele que parece quase invisível, percorre entre duas marcas nas margens. Fiquei ainda mais confusa, mas não to confessei. Decidi aceitar a forma como vês o tempo. Não que seja perfeita, mas é a tua.
Um dia pode ser que te fale dos meus segundos. Acho que não existe nenhum ponteiro que os marque, nem algarismos que os contem. No fundo, acho que não há forma de definir essa fórmula abstracta com a qual contabilizo o passar do tempo. Ele simplesmente passa. Nunca o vi, nem tenho esse desejo escondido. Mas tento senti-lo um pouco mais fundo nas alturas em que ele parece correr. É por isso que fecho os olhos. Uma tentativa falhada de o fazer passar mais devagar.
Talvez, um dia, fixe o teu relógio por um largo período de tempo, e consiga provar que, nos momentos em que ninguém mais está atento, os ponteiros passam algumas das marcas para chegarem mais depressa. E assim, mesmo que ninguém acredite em mim, terei a prova que há momentos em que o tempo corre.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Reflexo


Olha para ti. Chega perto da margem desse rio e procura o teu reflexo. Não esperes ver quem és. A água nada mais pode mostrar-te que o teu rosto. Aquilo que és, a tua essência, essa, nunca ninguém a verá.
Mas mesmo assim, olha. Vê aquilo que os olhos de todos os outros cruzam quando chamam o teu nome. Vê-te, não como sentes ser. Vê-te como os outros te sentem. Repara nos traços do teu rosto, no contorno do teu perfil, nas imperfeições na tua pele. Confronta-te.
É o teu corpo que as ondas suaves do rio embalam. Distorcem-no enquanto se agitam contra a orla. Mas tu, aí parado, a olhar para elas, sentes-te inerte. Nada em ti se move.
Olha para ti. Agora que aí estás, em frente do desenho imperfeito de quem és, observa como é frágil a estrutura que te mantém vivo para todos os outros. Para eles, tu és somente isso. Um perfil desconhecido, um corpo que anda, respira, ouve, cheira…
Mas tu sentes-te mais, tanto mais. Pensas que podes mudar o mundo, sonhas que o mundo mudará por ti.
Levanta o rosto. Olha à tua volta. Passam dezenas de outros perfis à tua beira. Achas que algum deles se apercebe dos teus desejos? Achas que algum desses rostos desconhecidos repararia se, de repente, o ar deixasse de percorrer-te os pulmões?
Mas mesmo assim, percorre-los com o olhar. Espias os seus gestos. Tentas vê-los a todos…por dentro. Procuras a essência perdida em cada rosto igual ao que passou. Memorizas os sorrisos contagiantes e as tezes tristes.
E quando a rua fica deserta e miras novamente o rio o teu reflexo desapareceu. Não, o teu corpo não se tornou invisível, foi simplesmente a noite que caiu…

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Escuta


[Shhh, a noite está a sussurrar...]

domingo, 16 de maio de 2010

Quase-certeza


O difícil na vida não é termos de fazer escolhas. O que nos corrói por dentro e destabiliza as nossas quase certezas é aprender a viver com elas.
Por mais que queiramos nunca vamos tomar aquela decisão capaz de pôr toda a nossa vida no eixo correcto. Porque, simplesmente, ela não existe.
Hoje acordei com vontade de esquecer tudo aquilo que, penso, tenho vindo a decidir nos últimos anos. Perguntas-me se o fiz, se esqueci… E a resposta é previsível, mas é a única que posso dar-te. Por mais que esse desejo fosse incomportável, nunca conseguiria pô-lo em prática.
Há escolhas que não estão disponíveis na prateleira do futuro.
Pensa assim: é como se caminhasses na floresta, esfomeado por uma qualquer semente que te aliviasse a fome inexplicável que te consumia. E, então, ao afastar um arbusto, encontras rebentos de uma fruta aparentemente deliciosa. O teu instinto será colhê-los de forma a saciares esse desejo por alimento. Mas eles são venenosos. E tu sabe-lo. Se os provares a tua caminhada termina metros à frente.
É assim também com os cruzamentos que nos vão sendo postos à frente ao longo desta caminhada, um pouco mais longa. Às vezes, surge uma estrada larga, repleta de luz, ladeada de um caminho estreito, cheio de pedras e espinhos.
Aprendi a acreditar no segundo. Não que a vida tenha de ser sempre dolorosa e formada por atalhos que custam a ultrapassar. Mas a recompensa é sempre mais doce quando os passos demoram a habituar-se ao trilho. Além disso, por este carreiro nascem flores em redor das pedras e sopra um vento fresco que me seca as gostas de suor no pescoço. E, como há menos pessoas, posso descansar sempre que as pernas vacilam, e ninguém me olha desconfiado quando me deito sobre as ervas a ver o pôr-do-sol.
Sim, certamente os outros chegarão mais cedo. Mas eu chegarei mais rica. Mais forte, mesmo que a minha pele mostre marcas das arranhadelas e o meu corpo pareça mais frágil. É que não é por aparentar mais cansaço que estou mais perto de desistir. Aqueles que nunca iniciaram a caminhada desistiram antes de mim.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Try again


Porque há alturas em que não nos apetece rir, mas apenas sorrir.
Porque, de vez a vez, não suportamos escutar e se torna mais sustentável ouvir somente.
Porque há manhãs em que acordamos e as lágrimas secaram, e só sobra a tristeza.
Porque há momentos em que se consomem as palavras e esta folha fica em branco. Horas a fio, dias até, sem que uma letra se deslinde pelas linhas.
É por tudo isto que amanhã quando saíres à rua e vires aquela criança a correr atrás da borboleta que hoje te passou ao lado vais rir, em vez de esconderes a alegria atrás de um sorriso aborrecido.
É por isto que amanhã irás escutar com atenção as palavras de quem te fala com ternura. Sim, vais emprestar a tua atenção por completo, em vez de fingires que as suas palavras te percorrem o intimo.
E amanhã, quando aquela dor que escondes não couber mais no teu peito, deixarás que espreitem dos teus olhos lágrimas quentes e salgadas. Vais deixar que te aliviem a mente, em vez de te limitares a mostrar essa tez pálida e soturna.
E quando chegares à noite, e a tua lembrança palpitar de vontade por guardar os pensamentos que passeiam pelos seus labirintos, vais pousar a folha de papel branca sobre a mesa. Vais agarrar no lápis de carvão e escrever. Qualquer coisa. Qualquer palavra que te perpasse as ideias.
Ninguém disse que todos os dias te obrigam a encarnar as mesmas emoções e desejos. Ninguém te obrigará a seres feliz a todas as horas. Só tens de te manter vivo. Quando não tiveres força para gritar, sussurra, alguém vai ouvir. Quando não fores capaz de correr, caminha, porque alguém se acalmará para andar a teu lado. E quando o ar te engasgar ao percorrer as tuas veias, abranda e tenta de novo.
E, sempre que a palavra desistir te aflorar o pensamento, apaga-a do teu vocabulário. Afasta-a para longe, a distância que seja suficiente para que ninguém a agarre e a leve consigo.

domingo, 2 de maio de 2010

A sombra



Sufocam-me as tardes sem vento. Apertam-me a garganta estas manhãs sem silêncio e as noites em que as estrelas estão distantes de mais para que os meus olhos as possam ver.
Asfixia-me este ar irrespirável, esta rotina sem horas pelas quais o meu coração possa bater mais forte. Ferem-me a íris as luzes indiscretas que sobressaem por entre as frechas da janela.
Um dia vi-te caminhar assim. Dizias estar vivo, mas para o meu instinto aventureiro parecias um vulto de alguém, uma sombra que se limita a copiar os movimentos de um corpo que respira.
Dizias que não, mas era isso que eras. Mais um clone por entre os tantos que vagueiam pelas ruas. Hoje senti-me assim. Mais uma.
Será que tem de ser assim? Será que temos de seguir os passos dos outros para que o ar nos percorra as veias?
Eu acreditava que não. Acreditava que utilizaria estas mãos para construir sonhos e as palavras para inventar histórias. Daquelas que nunca ninguém contou. Aquelas que ninguém ouviu. Eu acreditava que o oxigénio seria eterno e sempre nos renovaria os pensamentos.
Mas hoje, senti-me sufocar. Dirás que não respirei o suficiente. Dirás que basta que continue a respirar, como sempre. Mas é que hoje, quando o fiz, o ar apertou-me a garganta e acumulou-se no meu peito.
Lembras-te daquele jardim onde te deitaste a tentar adivinhar os desenhos das nuvens que corriam no céu? Lembras-te daquilo que sentiste?
Eu recordo-me que parecias leve. Quase diria que conseguias flutuar. Parecias solto, dono de ti. Livre. Naquela noite, deitaste sobre as dunas na praia e viste as estrelas. Vimo-las juntos. Sabias os seus nomes, as constelações, as galáxias. Naquela noite conseguias vê-las a todas.
E eu não acredito que o céu da noite de hoje tenha mudado. Mas eu não consigo encontrar uma única estrela. E sei porquê. Porque de tarde, limitei-me a olhar as nuvens pela janela, em vez de as ver passar, deitada naquele relvado.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ir



Apetece-me apanhar um comboio sem destino. Um daqueles que partem uma vez na vida, uma única vez.
Depois, sentar-me num dos lugares perdidos no fundo da última carruagem, aquela que é levada por todas as outras, aquela que nos dá a sensação do passar lento do tempo. Encostar-me à janela e pousar a cabeça sobre o vidro. E então, simplesmente não pensar em nada. Deixar que o tempo passe por mim.
Apetece-me sentir isso mesmo. Fechar os olhos e sentir que o mundo se mexe mas eu permaneço igual. Sentir que, por uma vez, não vale a pena. Sentir que nada vai mudar quando eu abrir os olhos, dias depois.
É que era isso que queria... Ir, sem que ninguém notasse ou soubesse.
Talvez bastasse deitar-me e tentar sonhar. Talvez dormir fosse o bastante. Mas não é isso que quero. Não quero adormecer enquanto a vida pulsa ritmadamente. Queria somente fechar os olhos e não a ver passar. Por uns instantes. Uns momentos de descanso, enquanto sei que todos os outros correm para não perder um minuto.
Mas é que, às vezes, seria tão bom poder descansar na margem da estrada, sem que ninguém nos obrigasse a andar. Poder parar para ver tudo com atenção, com os olhos de quem não tem pressa ou compromissos. Viver como um sem-abrigo. Um nómada. Sim, acho que é isso. Às vezes, gostava de ser como eles, como esses que descobrem o mundo, de mochila às costas. Parecem tão felizes...
Não é que não queira a tua companhia. Mas, com o tempo, vamos aprendendo a respeitar a solidão e a cumplicidade que ela nos empresta. Não fomos feitos para estar sós. Mas é impossivel apreciar a proximidade de outro alguém, sem que tenhamos exprimentado a sua ausência.
E eu sinto falta. Sinto falta de ouvir os meus passos. Sozinha. E rodeada do mundo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

You're not alone




Hoje não vamos falar. Não precisas de ter medo. Sossega o teu coração que bate descompassadamente desde que te aproximaste.
Hoje vamos só ficar assim. Juntos. Vamos falar com a voz do pensamento. Encostar as nossas almas e sussurrar baixinho, muito baixo, aquilo que com palavras pesadas iria arrancar-nos lágrimas das quais precisamos.
Prometo não pedir mais que isto. Só quero ouvir esses suspiros. Só quero que os partilhes comigo, para que não te sintas vazio quando expelires todo o ar que te sufoca.
Aproxima-te. Só um pouco. Só até que a tua pele toque a minha e eu consiga sentir o teu arrepio. Só para saber quando as ondas de pesadelos te invadem a memória.
Não digas nada. Não transformes este silêncio em mais uma noite de pesadelos. Aperta a minha mão com força. Deixa-me levá-los, afastar os fantasmas que te preenchem os sonhos e te mantêm preso nesse casulo de dor.
Abre-me o teu coração. Não que seja médica e te cure, de vez, essa dor que comportas e não sabes explicar. Mas deixa-me ver-te, deixa que te acompanhe por esse deserto onde te perdeste. Não prometo encontrar o caminho, mas caminharei a teu lado. Para que, quando sentires demasiado medo, percebas que não estás só. E para que quando sentires vontade de desistir a minha mão agarre a tua e te dê força para continuar.

Tell me how you really feel
Tell me what is on the inside of you
All the somethings you conceal
Only keep away the ones who love you
I know there's nowhere you can hide it
I know the feeling of alone
Trust me and don't keep that on the inside
Soon you'll be locked out on your own
I Know - Jude

sábado, 17 de abril de 2010

Bom dia...



Ela ali estava. Sentada sobre as ervas frescas. Abraçada sobre si mesma. Invisível ao mundo, inerte para com ele. Tal como em todas as manhãs encontrava-se encostada ao grande carvalho que, nesta altura do ano, parecia começar a ganhar folhagem nova.
Para ele, parecia uma miragem, uma visão da sua mente há tanto tempo sozinha. Observava os olhos tristes dela, a sua tez pálida. Conhecia-a sem que nunca ousasse ter-se-lhe revelado. Bastava aquilo. Aqueles segundos de companhia. Bastava tão-somente sentir que lhe era útil e lhe afastava a tristeza.
Naquela manhã, tal como em todas as passadas e aquelas que estariam para vir, ele veio ao seu encontro. Caminhou longos minutos por trilhos sinuosos, enquanto o Sol parecia ainda começar a espreguiçar-se, tímido em clarear a manhã. Caminhara unicamente por saber que ela ali estaria. Para poderem partilhar, em silêncio, aquele ritual que secretamente os unia.
E agora que ali estava faria o mesmo que em todas as manhãs se habituara a reproduzir. Olhava-a, afastado o suficiente para ela não se aperceber da sua presença, mas perto o que bastava para se sentirem. Ela era demasiado ingénua para pertencer àquele mundo cruel; parecia demasiado frágil para o enfrentar.
Então, como em todas as manhãs, ele agachou-se perto da margem do rio que os separava e, sem fazer barulho, lançou uma pequena pedra para a margem onde ela se encontrava. Depois, sorriu, feliz por, mais uma vez, ter feito parte do dia dela, mesmo que em segredo.
Ao sentir algo agitar as ervas que a circundavam, ela ergueu-se a esforço e pegou na pedra. Amarrado à sua volta, um pequeno papel amachucado desdobrou-se com o toque leve dos seus dedos. Mal aquelas letras se reflectiram nos seus olhos, ela descontraiu o rosto triste e pareceu sorrir.
A missão dele estava cumprida. E, enquanto todos os outros pediam o mundo, ele só precisava daquele momento para se sentir bem. Tal como ela que ali ia todas as manhãs numa suplica por aquelas duas palavras ternas. E, apesar de não saber a quem responder, reproduzia-as no seu pensamento àquele alguém que a escutava – Bom dia...
Não precisavam de mais nada. Cumprimentavam-se sem a que a voz se perpetuasse no espaço. Conheciam-se e, no entanto, eram meramente dois estranhos que se viam reflectidos no espelho da água quando o reflexo do outro se aproximava da margem oposta.

terça-feira, 13 de abril de 2010

"Titanic was called the ship of dreams. And it was, it really was"



Fecha os olhos. Deixa que a música te preencha os sentidos. Sonha. O que é que vês?
É dia 10 de Abril de 1912. São quase 12 horas. o cais de Shouphampton, sul de Inglaterra, está repleto de pessoas, milhares de mãos que erguidas no ar acenam aos amigos e familiares que partem. Encostado à doca, envolto pelo fumo dos carros do início do século e pelo barulho da vida que se move em seu redor está o navio da companhia White Star Line. Basta desviar o olhar para a proa para ler o seu nome. Mas nenhum daqueles que ali se encontram sente essa necessidade. Neste início de tarde solarengo que marcaria a vida de mais de 2500 pessoas todos sabem que o navio que está prestes a fazer-se ao mar é o RMS Titanic.
Pobres esperançosos de uma vida melhor na prometida América; milionários impacientes por porem um pé no interior do maior objecto já construído pela mão do Homem; simples passageiros que foram obrigados a embarcar neste paquete devido à greve do carvão que paralisou grande parte dos transatlânticos. Podem não ter nada em comum. Mas a viagem que hoje iniciam irá criar um laço entre as suas vidas que nunca se consumirá.
Mais de 1500 destes rostos esperançosos nunca regressarão.

Assinalam-se este ano, dia 14 de Abril, 98 anos que esta história foi escrita. Foram apenas quatro dias os necessários para que se tornasse intemporal. Depois de três anos a ser construído, o Titanic viveu quatro dias para mostrar ao mundo que a natureza é mais forte que a vontade e o desejo pelo magnifico.
A viagem de sonho que há 98 anos atrás terminava em tragédia foi a maior lição da história sobre a vulnerabilidade do ser humano. E o que mais me faz pensar é saber que o Titanic continua vivo, “intacto” a mais de quatro mil metros de profundidade, nas águas escuras e geladas do Atlântico Norte, num lugar inóspito, onde toda a grandeza e riqueza dos grandes salões nunca será apreciada, onde os veludos dos sofás não podem ser tocados, e as louças de cristal não servirão ninguém.
Mas ele está lá. Neste preciso momento, enquanto escrevo, ou mais tarde quando reler estas palavras. O Titanic permanece o navio impenetrável para os menos afortunados. Mas há muito mais para além disso. Aquilo que este navio é realmente, isso, será sempre concedido a todos nós. O Titanic é, foi e sempre será o navio dos sonhos, a obra-prima que um dia um homem sonhou – Thomas Andrews – e que escolheu o fundo do mar como único lugar onde todos o podem ter.
Não espero com estas palavras contar a sua história. Até porque isso nunca seria possível em tão resumidas palavras. O que tento é manter viva a lembrança e a verdadeira história que envolve este navio. Para que, no dia em que o Oceano decidir apagar os vestígios da sua presença, o Titanic permaneça vivo num qualquer outro recanto da nossa memória.
Tudo para que, quando as provas físicas da sua existência tiverem desaparecido, o Titanic não se torne uma lenda e continue a alimentar sonhos pela mente dos viajantes do pensamento…como eu.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

I always try to not remember rather than forget




Sempre ouvi dizer que o vento é capaz de transportar sementes de países distantes, por quilometros. Que as deixa cair sobre a terra num qualquer outro lugar do planeta e aí faz renascer uma vida.
Não sei se é verdade. Mas descobri que essa mesma brisa, esse elemento que não se pode ver mas que somos capazes de sentir como poucos outros, transporta algo bem mais pesado, embora igualmente intocável. O vento embala memórias que desejámos esquecer naquele momento de angústia.
Sim, sabes do que falo. Também tu te sentaste em frente ao mar e suplicaste que a brisa gelada que te arrancava gotas salgadas do olhar levasse com ela aquela dor que não conseguias guardar aí dentro.
Eu sei. Também o fiz, em segredo. Baixo o suficiente para que o meu coração não ouvisse e as retivesse por mais tempo.
Supliquei-lhe e ele assim fez. Acostou-se ao meu corpo e, enquanto uma onda rebentava contra as rochas, tomou os meus pensamentos e deixou o meu espírito em sossego.
Jurei ter esquecido, naquela tarde. Por instantes tive a certeza de que as memórias que causavam feridas tinham desaparecido de vez. Fui até capaz de sorrir, imagina… Como que, se por meramente não me lembrar, tivesse esquecido.
Hoje voltei a esse lugar. Agachei-me perto das rochas e senti a mente vazia, como desde esse dia em que entregara a alma ao vento do fim do dia. Arrastada por uma onda violenta, senti uma nova brisa chegar-se a mim. E, enquanto de olhos fechados a deixei serpentear pela minha pele, senti que o meu pensamento se voltava a preencher.
É que às vezes para esquecer o passado é apenas preciso saber não lembrá-lo. Porque mesmo que o entreguemos ao vento, ele permanece vivo, a esvoaçar pelos nossos cabelos nas tardes de tempestade.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A melodia do adeus


Errar também é humano. E mais que perdoar outra pessoa, é preciso que saibamos perdoar-nos a nós próprios. E é esta a busca de Ronnie.
Filha de pais separados, Ronnie culpou durante três longos anos o seu pai por tudo aquilo que acontecera. Afastou todas as suas tentativas de reaproximação; rejeitou todas as cartas que ele persistiu em escrever-lhe, como prova do seu amor.
Virou costas a tudo aquilo que os unia, até mesmo a algo que sempre haviam idealizado para o seu futuro: a música.
Quando no Verão, que mudaria a sua vida, a mãe a obriga a passar uns tempos na vila costeira onde o pai reconstruiu a sua vida, Ronnie sente-se perdida. Inicialmente demonstra raiva por todas as palavras e gestos de quem se cruza no seu olhar. Will, rapaz da sua idade, jogador de volei, vai ser um deles. Mas, pouco tempo bastará até que ele comece a mudar tudo nela. Ele será o único capaz de conviver com a sua revolta e de perceber o que motiva o seu comportamento rebelde.
De amigos passarão a dois adolescentes que descobrem o primeiro amor. Mas quando o Verão termina, uma tempestade abate-se na vida de Ronnie. Algo que a transformará completamente e que irá apagar todas as cicatrizes da relação com o seu pai. Iniciará aqui uma busca ao fundo do seu ser. Uma procura incessante por aquilo que pode simbolizar, da forma mais genuína, um “adeus” que nunca pode ser dito.
Uma história sobre os laços que unem pais e filhos, sobre perdão, compreensão e, acima de tudo, sobre a forma como o amor verdadeiro pode curar a dor da perda.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Hold on

Friendship isn't how you forget, but how you forgive.
Not how you listen, but how you understand.
Not how you see, but how you feel.
Not how you let go, but how you hold on!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Shiu...




Senti o vento fazer-me festas no pescoço. Todos já o sentimos. Alguma vez na vida, nem que por um momento. Todos já fechámos os olhos e desejámos que aquele vento que nos assobia ao ouvido tivesse força para nos levar com ele. A força que não temos dentro de nós.
Encostei-me ao de leve sobre o seu ombro. Falei-lhe, com a voz do pensamento, sobre as tempestades de medos que me impediam de abrir os olhos, e o ver. E ele passou por mim lentamente. Primeiro tocou-me as costas, percorrendo o meu corpo num arrepio. Soprando ao sabor dos segundos, beijou-me o pescoço com os lábios suaves. Depois, soltou o meu cabelo no ar, para que se misturasse com ele e saboreasse a liberdade,
Envolveu-me no seu colo, abraçou-me e depois partiu. Levava com ele o perfume da terra e o paladar dos sonhos.
Senti-o como se pela primeira vez. E, quando se desfez no ar, soltou-se dos meus olhos uma lágrima.
Para todos os outros era o reflexo do vento frio contra a minha íris. Mas o que ela chorava era a despedida da sua última oportunidade de descobrir, também, aquilo a que sabe ser livre.

domingo, 7 de março de 2010

Efemeridade




Efémero
Há algum tempo que pensava nesta palavra. Sabia aquilo que significava, sabia o motivo pelo qual a descobrira. Ensinaste-me a olhar o mundo assim, mostraste-me que a eternidade é longa de mais para ser planeada, abstracta de mais para ser real.
Aprendi, com o tempo, que aquele eternamente que as minhas palavras escreviam, folhas atrás, não é um tesouro, mas uma caixa antiga, coberta de pó, que os meus braços não devem segurar por mais tempo. A eternidade pesa de mais para a levar comigo nesta viagem. É grande de mais. Esconde-me o caminho. Obriga-me a parar para a pousar e recuperar o fôlego.
Sim, deixei-a lá atrás. Mesmo antes daquela curva onde me falaste da beleza daquilo que é efémero, onde descobri que esta nova caixinha é bem mais leve e fácil de guardar no bolso.
Abri hoje um pequeno dicionário e procurei pelo seu significado. Queria saber, ao certo, aquilo que protegia agora a minha visão do futuro, mas percebi que o que conta não é aquilo que os outros escreveram sobre ela. O que interessa, isso sim, é o que eu posso delinear nesta folha a seu respeito. E tinhas razão. Por mais doce que seja a eternidade, sabe melhor caminhar e perscrutar o passar do tempo.
É mais simples agora, quando aquela flor que colhi murcha. É mais simples quando a noite chega e o sol desaparece. Os meus olhos já não se avermelham, estão preparados para esse ciclo.
E, eu sei que, apesar desta efemeridade, há um ciclo que se repete. A flor que encontrarei amanhã não será a mesma que me havias oferecido, mas será igualmente perfumada e crescerá da terra. E, mesmo quando o teu vulto tiver ficado numa qualquer outra curva do caminho, longe de mais para ser avistado do lugar onde estou, eu sei que estará perto o que baste para me ajudar a colher as novas flores que surgirem pela estrada.
Passei a acreditar na eternidade daquilo que é efémero. Se não, repara: o nosso abraço prolongou-se por breves segundos, mas permanece intemporal na minha lembrança…

sábado, 27 de fevereiro de 2010

The Album Leaf




Santiago Alquimista. Lisboa, 21.30h. Poucos minutos tardaram até que o ambiente escurecesse e o pequeno palco tomasse vida com a melodia do violino de Matthew Resovich, um dos cinco membros da banda norte-americana, The Album Leaf. Depois das primeiras músicas, o grupo completou-se e preencheu o espaço com músicas dos antigos álbuns e novidades do mais recente 'A Chorus of Storytellers', noite dentro.
Foi a estreia oficial dos The Albun Leaf em Portugal, depois de terem aberto o concerto dos islandeses Sigur Rós, em Lisboa, há seis anos.
Num ambiente intimista, transformaram os cerca de noventa minutos de concerto com o seu estilo leve e alternativo, mergulhando o público num estado de abstracção. A variedade de instrumentos conferiu ao espectáculo uma dinâmica melodiosa muito própria e uma oportunidade rara para desfrutar da presença de uma banda que percebe como dar alma à música.
Jimmy LaValle, como vocalista, deu voz a sucessos do grupo como Twenty two fourteen e Always for you, pedidos pelo público, ao longo da noite. Divertidos, interagiram com o público e responderam aos sucessivos pedidos dos admiradores. Mais calado apresentou-se o baterista, Tim Reece, que, mesmo assim, respondeu na linguagem que conhece melhor. Uma performance cheia de ritmo e que sugou a atenção até à última música.
Apesar de pouco mediatizados, os The Album Leaf foram recebidos por um público conhecedor do seu percurso. Num concerto marcado pelo jogo de luzes no palco e pela mistura de instrumentos que habitualmente não pautam as bandas mais comerciais (xilofone, violino) os norte-americanos cumpriram o esperado, exibindo um projecto confiante e diferente, mas acima de tudo repleto de originalidade. Prova de que continua a valer a pena dar novos passos na música.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Isto...


Sinto falta de caminhar pela manhã; de ver o Sol nascer, enquanto os primeiros raios me aquecem a pele fria pela brisa matinal...
Tenho saudades desse silêncio, saudades de conseguir ouvir os meus passos. Saudades de me sentir pequena perante o mundo, e não perante as pessoas...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain


"Estranho o destino dessa jovem mulher, privada dela mesma, porém tão sensivel ao charme das coisas simples da vida"


Porque há alturas na vida em que temos de fazer escolhas, alturas em que alguém nos sussurra ao ouvido a verdade que, desde sempre, mantivemos afastada do coração. Porque há alturas em que, por mais satisfação que nos tragam os sonhos, seria tão melhor sentir a realidade encostada à pele, e a presença física de um outro alguém, ao invés da sua imagem desfocada na nossa mente.
Porque a felicidade dos outros já não é o que basta, porque o nosso coração ameaça transforma-se num esqueleto frágil que se despedaçará no próximo instante de solidão.
É tudo isto e mais um mundo repleto de inseguranças provocadas por uma infância diferente, uma infância em busca de um companheiro que a compreendesse, um amigo que entrasse na sua vida isolada, que fazem de Amélie Poulain uma personagem tão intensa e capaz de reflectir os nossos mais preciosos segredos, ansiedades, dúvidas e, também, as pequenas alegrias; aquelas pequenas sensações que perduram no tempo e nos tornam naquilo que somos realmente – Amélie gosta de fazer ricochetes na água com pequenas pedras que encontra pela rua…
No decorrer deste filme de Jean-Pierre Jeunet, somos confrontados com um conjunto de personagens que nos tocam pela sua autenticidade e capacidade de nos revelar sempre um pouco de nós mesmos. Em Amélie tudo é ingenuidade. A sua vida muda no dia em que ajuda um velho homem a reencontrar-se com a sua infância, perdida numa pequena caixinha de lata. Contagiada pela súbita felicidade no rosto daquele homem, Amélie encontra uma forma de preencher o vazio que a solidão da sua vida comporta. Dedica-se a partir de então a trazer um pouco mais de magia à vida daqueles que conhece, deixando o seu destino para segundo plano.
Mas Amélie não está sozinha. Do outro lado da janela, observa-a um velho homem que procura captar a essência perdida de uma das personagens dos seus quadros. É ele quem confrontará Amélie com a realidade e a fará compreender que o mundo não olha por si, mesmo que ela se dedique a ele.
Mas até que ponto esse mundo soube esperar por ela, até que ponto ainda existe espaço para o seu perfil nessa tela que há tanto tempo espera por si?...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Stop to see


You could just lie awake
And watch the break of day
Quite in your place

Today I guess there is no phone
You need some time all alone
Like there’s no one else alive
And you’re fine with that
Smiling at the fact

Today I guess there is no phone
You need some time all alone
To look further away
Further away
No longer breathing half of the air
To look further away
Further away
No longer breathing half of the air

You know that I believe in you
And all the things you do
Today the sky is blue
And it won’t fall
Over your head again
I’m here to explain
Your back where it begins

So take your time to know where it hurts
If they don’t believe you
I do
So please take Yourself to a place where you could stop to see what the hell is going on, dear

Look and see how children play
They don’t fear a thing
See how their eyes blink
It’s a lie
When they say you won’t be happy
That choice is only yours
You only have to look…

Fingertips - Stop to see

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

I just want you, to know who I am...




Há alturas em que a vida nos obriga a uma reflexão. Alturas em que, por mais que queiramos, o sol já não parece brilhar da mesma forma, e a lua estranhamente parece sozinha no escuro da noite. Mesmo que para todos os outros estejam milhares de estrelas em seu redor.
Há alturas em que os caminhos não se cruzam e a estrada parece monótona, em linha recta, rumo a um horizonte que nem se vislumbra. Alturas em que dos dois lados do olhar, não surge uma luz, nem uma pista daquilo que é certo ou é errado.
Há momentos em que a chuva cai incessantemente. Em que não surge um único abrigo de baixo da copa de uma árvore e a água nos lava o corpo e a alma, inundando-nos até o coração. Alturas em que nos apetece que essa chuva nos arraste pelo caminho com as folhas secas, para não custar tanto caminhar.
Há alturas em que as palavras perdem os traços, a fala perde a voz e os dedos se tornam hirtos, incapazes de pegar na caneta e deixar um rasto de tinta pelo papel.
Há momentos em que olho para ti e não encontro os teus olhos. Em que o teu corpo toca o meu, mas sou incapaz de sentir a tua pele. Momentos em que sou incapaz de sentir a minha...
E, mesmo nessas alturas, mesmo quando fecho os olhos para adormecer num pesadelo menos doloroso que este em que me vês de olhos abertos, sinto que continua a valer a pena. Continua a valer a pena esperar que o sol brilhe como dantes, que as estrelas renasçam, que a estrada se cruze com a tua, as palavras ganhem significado e os teus olhos mantenham os meus abertos.
Acho verdadeiramente que sim....