quinta-feira, 29 de setembro de 2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

It's only fear


Imagina que ela está a teu lado. Imagina que ela te toca. Sente o dedo dela a pousar sobre o teu braço. Sente o macio da sua pele a alisar os teus poros hirtos pelo frio que faz.
Fecha os olhos e olha para ela. Fixa o seu rosto pálido. As mãos compridas e magras. Absorve o seu sorriso. Aquela gargalhada que, em tantas tardes como aquela, te fez rir também.
Sente a sua presença. Como se ela estivesse aí. Mesmo que não possas vê-la.
Recorda o cheiro dela. O frio que fazia naquela manhã de Inverno.
Recorda as palavras que ela te disse e os silêncios que contigo partilhou. Vive-os novamente. Só mais esta vez. Será a última, tu sabes.
Depois, encerrarás esta história numa caixa poeirenta e nunca encontrarás a chave.
Por isso, sim, hoje entrega-te a esses momentos. Entra nas imagens que se espalham pelos teus olhos e recorda cada pormenor. Chora. Ri. Despede-te desse lugar onde ela prometeu que serias sua.
Hoje será a última vez que o farás. Permite-te a isso.
Lembra-te da forma como ela caminhou na tua direcção. Os passos pequenos. O caminhar tímido. Lembra-te do sorriso que trazia no rosto. O brilho nos olhos.
Foi há muito tempo, mas jurarias ter sido hoje mesmo.
As imagens tornam-se turvas quando recordas o vulto dela a afastar-se do teu. Mas o aperto no peito, esse, permanece igual.
Abre os olhos. Ao teu lado, no espaço que ela ocupava, não existe nada. Mas, ao contrário de todas as outras tardes em que choraste a sua ausência, hoje não o farás. Já não é o vazio que te toca.
Agora há um mundo inteiro que espera por se sentar ao teu lado.