sábado, 17 de dezembro de 2011

Don't forget

"Os nossos sonhos....


...dissolvem-se lentamente onde os esquecemos."

José Luis Peixoto

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

It's hard to know where to begin





O vazio.
Pensava que o vazio era a ausência de objectos. A falta de coisas que preenchem os lugares e os tornam habitados. Pensava que era impossível sentir o vazio num lugar onde não falta nenhuma peça.
Pensava que o vazio era quando se mudava de casa e o antigo quarto ficava deserto. Quando o espelho já não reflectia as nossas recordações. Quando só se viam paredes lisas e se ouvia um eco estranho produzido pela ausência de tudo.
Sempre pensei que isso fosse o vazio. Mesmo o espaço, a imensidão do universo me parecia distante desse conceito porque está repleto de estrelas. Vivo. Mas agora, acho que até o Universo pode ser vazio num ou noutro momento.
Até uma avenida movimentada pode proporcionar-me essa sensação.
É que o vazio não é a inexistência de pessoas, vozes ou objectos, mas sim a ausência daquilo que costumava dar a todas essas coisas o seu significado. E sem esse elo de ligação até as estrelas se apagam deixando o céu nocturno profundamente adormecido.

sábado, 12 de novembro de 2011

.


Quando era pequena, costumava escrever nos postais do Dia da Mãe que tinha a melhor mãe do mundo. E tinha. Posso ter crescido e deixado de lhe escrever essas mensagens, mas nunca duvidei - nem esqueci - a pessoa extremamente bondosa que ela era. Sei que todas as suas virtudes apagam os seus erros.
O que sou devo-o a ti, mãe.

Amo-te.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Medo


Medo.
Sim, às vezes eu tenho medo. Não o digo a ninguém. Fiz desse, um dos meus segredos. Daqueles que não partilho, nem mesmo com o reflexo do espelho, receosa da lágrima que pode surgir do outro lado do vidro.
Perguntas-me porque escrevo. E eu respondo-te que o faço para afastar esse medo que ninguém conhece mas existe. Não sei explicar-te como, mas as palavras que fluem dos meus dedos levam consigo, agarrado aos seus contornos, o medo que, de outra forma, viveria só em mim.
Quando desenho um ponto final ou o prolongo numa vírgula os monstros dos pesadelos surgem mais distantes. Não lhes vejo o rosto assustador. Suponho que se enchem de mochilas pesadas e fogem para longe.
Perguntas-me se sinto medo agora. Respondo-te que sim. Não é que desta vez as palavras tenham deixado de funcionar. Mas é que quando os receios nos preenchem, não basta fazê-los partir, é preciso encontrar uma razão para eles não voltarem.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Essa pequena dor



Quando te sentires triste, não penses que é tua a culpa. Não penses que há um culpado, sequer. Porque é que a tristeza tem de ter um autor, se a alegria é tantas vezes espontânea?
Deixa-te sossegar enquanto a nuvem negra passa. A tristeza cairá sobre ti em forma de gotas de água salgada, mas não a afastes. É só sinal de que se aproxima o momento da calmaria.
Quanto te sentires entristecer refugia-te do frio que gela e afasta-te também do calor que sufoca, para que a tua pele se mantenha húmida. Mas não fujas. Ela passará. Tal como a felicidade é efémera, também essas lágrimas morrerão ao caírem dos teus olhos.
Deixa que o mundo continue a mexer-se em teu redor. Afasta-te se ele vier ao teu encontro para que o seu toque não magoe. Mas fica por perto, não vá a alegria voltar de repente e apanhar-te desprevenido num canto solitário do mundo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Thinking

"All I want is the wind in my hair...


...To face the fear but, not feel scared."

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

It's only fear


Imagina que ela está a teu lado. Imagina que ela te toca. Sente o dedo dela a pousar sobre o teu braço. Sente o macio da sua pele a alisar os teus poros hirtos pelo frio que faz.
Fecha os olhos e olha para ela. Fixa o seu rosto pálido. As mãos compridas e magras. Absorve o seu sorriso. Aquela gargalhada que, em tantas tardes como aquela, te fez rir também.
Sente a sua presença. Como se ela estivesse aí. Mesmo que não possas vê-la.
Recorda o cheiro dela. O frio que fazia naquela manhã de Inverno.
Recorda as palavras que ela te disse e os silêncios que contigo partilhou. Vive-os novamente. Só mais esta vez. Será a última, tu sabes.
Depois, encerrarás esta história numa caixa poeirenta e nunca encontrarás a chave.
Por isso, sim, hoje entrega-te a esses momentos. Entra nas imagens que se espalham pelos teus olhos e recorda cada pormenor. Chora. Ri. Despede-te desse lugar onde ela prometeu que serias sua.
Hoje será a última vez que o farás. Permite-te a isso.
Lembra-te da forma como ela caminhou na tua direcção. Os passos pequenos. O caminhar tímido. Lembra-te do sorriso que trazia no rosto. O brilho nos olhos.
Foi há muito tempo, mas jurarias ter sido hoje mesmo.
As imagens tornam-se turvas quando recordas o vulto dela a afastar-se do teu. Mas o aperto no peito, esse, permanece igual.
Abre os olhos. Ao teu lado, no espaço que ela ocupava, não existe nada. Mas, ao contrário de todas as outras tardes em que choraste a sua ausência, hoje não o farás. Já não é o vazio que te toca.
Agora há um mundo inteiro que espera por se sentar ao teu lado.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"Às vezes eu não sonho com medo de acordar"


Quantas vezes na tua vida pensaste que não serias capaz? Quantas vezes inibiste um sorriso com medo das lágrimas que viriam a seguir?
Deixa-me contar-te um segredo. Também eu já perdi as forças por alguns instantes. Sim, não foste o único a duvidar. Todos o fizeram. Mas enquanto para alguns esse foi o momento da mudança, tu subsistes envolto num casulo de desespero. Estás fraco de mais para desejares libertar-te.
Quantas vezes já deixaste de sonhar com medo de que a realidade te despertasse? Permaneces acordado todas as noites, sem tirar os olhos das estrelas. Fixas o seu brilho como quem espia uma criança para ela não se perder. Não te permites descansar as pálpebras por um mero minuto.
Não preferias usar a luz nocturna para soltar os pensamentos e seres livre? Olha as tuas mãos. Vê como são perfeitas, apesar de todas as linhas que as trespassam e das feridas que acumulam pelo trabalho. Porquê desperdiçá-las aconchegado nesse recanto triste, onde mais não fazem que sentir o frio da tua pele?
As minhas mãos também tremem. Podíamos juntá-las e partilhar o calor que o seu toque produzisse. Não queres? Se te confessar os meus medos, contas-me os teus fracassos?
Se te afastar os pesadelos, prometes adormecer sobre o meu ombro magro?
Não garanto ser capaz de te acompanhar no percurso que te espera, mas posso preparar a mochila a teu lado. E, um dia, quando voltares irei esperar-te ao caminho, para a carregar até ao fim.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Shine a light
















It's time to make a start
To get to know your heart
Time to show your face
Time to take your place
In every speck of dust
In every universe
When you feel most alone
You will not be alone.



My Shadow, Keane

domingo, 24 de julho de 2011

Silêncio


Hoje o silêncio penetrou-me a pele. Abriu caminho por entre os músculos e calou todos os gritos que ecoavam pelo meu corpo.
Em poucos segundos, tudo em mim se aquietou e tornou mudo. O silêncio que inventara nas folhas atrás, soltou-se do papel e procurou o meu coração. Silenciou os suspiros e apagou as luzes indiscretas. Tudo ficou calmo.
Então, mergulhada numa cortina de sossego que nunca antes me cobrira, ouvi coisas que tinham estado escondidas todo este tempo: um som constante proveniente do meu peito; um tic-tac quase irritante produzido pelo relógio; a aspiração de ar sempre que os meus pulmões pediam oxigénio.
Hoje, quando inspirei profundamente senti que o meu corpo relaxava. Nunca tinha sabido descrever o silêncio. Até hoje. Mas vou guardá-lo para mim. Não poderias compreendê-lo, mesmo que escrevesse páginas e páginas sobre ele. Para o compreenderes, tens de o sentir primeiro.
Podemos fazê-lo juntos. Queres?

terça-feira, 5 de julho de 2011

Pensa comigo


Pensa no início. Sim, na primeira palavra que lhe disseste. O primeiro sorriso que ela te provocou, mesmo quando o tentaste evitar. Pensa na primeira vez que o teu coração se sentiu tocado com algum dos seus sentimentos; ou na primeira vez que tiveste vontade de a apertar nos teus braços.
O início. Tudo tem um começo, a altura exacta em que um novo ciclo começa; uma nova vida nasce dentro da já existente. No início tudo nos parece estranho, nada familiar. Desconfortável, até. Mas depois, pouco a pouco, isso muda.
Lentamente vais conseguindo prever a reacção dela às tuas palavras. Adivinhas os pensamentos que lhe vagueiam na mente quando lhe confidencias os teus segredos. Já não te treme a mão, como quando escrevias a primeira frase do caderno. Agora já sabes a caligrafia que deves usar, e a dimensão de cada capítulo.
A excitação faz-te escrever sem parar. Este é um dos momentos mais emocionantes da história. Respiras sofregamente a imaginar tudo aquilo que ainda está para vir. Parece que vai durar eternamente a nova aventura.
Pensa no fim. Na sensação de aperto na garganta. No excesso de água nos olhos de cada vez que ela te surge no olhar.
Começas a reflectir sobre a forma como tudo deve terminar. Restam-te poucas folhas no caderno, mas algo no peito te suplica que continues a escrever. Agora, as mãos voltam a tremer-te. Não devido ao entusiasmo da descoberta, mas devido ao medo em relação ao que fica por revelar.
O fim. Tudo tem um fim. Mesmo que o prolongues no papel, ele aparecerá a secar-te a tinta da caneta.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Lembras-te?


Lembras-te de quando tinhas medo da trovoada? Daquelas noites em que só os relâmpagos iluminavam a tua solidão. As noites em que jurarias nunca vir a ter coragem de enfrentar o mundo, lá fora, sozinho.
Eu ainda me lembro de ver esse medo espelhado nos teus olhos. Recordo-me exactamente da timidez dos teus passos; da falta de voz nas tuas palavras. E tu? Ainda te lembras de quando baixaste, pela primeira vez, as tuas defesas mascaradas em altas muralhas, e me deixaste entrar no teu castelo poeirento?
Foi difícil achar-te. Esconderas-te no canto mais escuro e inacessível. Procurei-te durante horas, dias, talvez.
Lembras-te do momento em que me aproximei dos teus pés e te toquei a pele? Estava fria. Gelada. Parecias ausente de vida.
Atrás das minhas costas, soprava um vento que me arrepiava o corpo.
Tu não disseste nada. Fizeste-me entender que desejavas que te deixasse em paz. Mas não o fiz. Levantei-me e dei alguns passos até à parede oposta. Lá sentei-me de frente para ti e esperei. Esperei por um gesto. Um suspiro. Uma palavra. Nada em concreto, na verdade.
Sucederam-se noites estreladas, em que dormiste sossegado no teu canto. Não sei quanto tempo passou até que, numa madrugada, um trovão irrompeu no silêncio. O meu corpo tremeu.
Nunca to dissera, mas também eu sentia medo nas noites de tempestade. O meu coração estava acelerado e as minhas pálpebras não se descolavam receosas do que as esperava à sua frente.
Foi então que algo quente se encostou a mim. No início tive medo de mais para abrir os olhos. Mas depois, algo me tocou a mão e a acariciou.
Lembras-te?
Eu nunca esquecerei. Foi a primeira vez que o senti: o toque da tua pele. E a sua quentura aconchega-me, até hoje, nas noites de trovoada.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

domingo, 22 de maio de 2011

O teu segredo


Olha… Sim, tu. Estou a falar contigo. Não interessa que não me conheças. Não importa que não consigas ver-me. Escuta-me apenas. Deixa que as sílabas que se soltam da minha voz te penetrem os ouvidos. Deixa que calem o silêncio que te rodeia.
Do que vamos falar? Dizem que o tempo é o assunto que os estranhos escolhem para abater a distância entre si. Nunca deste por ti a falar do frio que, há dias, não te deixa guardar o casaco na gaveta? Ou do calor que te faz beber litros de água, quando acordas de madrugada?
Acho que todos já o fizeram. Mas, mesmo assim, continuo a achar meio tolo que, ao estarmos ao lado de alguém de quem não sabemos nada, só queiramos descobrir a sua opinião sobre a meteorologia.
Podíamos falar de outro assunto. Pode ser?
Tens um segredo? Não, claro que não deves contar-me. Mas podes falar-me dele. Quando descobriste que era o teu segredo? O que é que sentes quando os outros falam sobre ele, sem saber que o guardas numa caixinha misteriosa?
Eu também tenho um segredo… Um dia, gostava que alguém o descobrisse, sabes. Para não pesar tanto, este baú que trago comigo para todos os lugares. Assim, podia partilha-lo; pousá-lo sobre as mãos de outra pessoa, enquanto descanso os músculos doridos de o carregar. Se quiseres, podes tentar. Eu gostava. Tu não?
Se eu tentasse descobrir o teu segredo, ajudavas-me a libertar o meu?
Também não se como se faz, mas se trabalharmos juntos, talvez se torne mais fácil. Amanha, quando voltar, prometo aproximar-me um pouco mais. O suficiente para conseguirmos ver o perfil um do outro. E daqui a uns dias, se vieres, estaremos perto o bastante para conhecer a cor dos olhos um do outro.
Prometo esperar. E tu?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Arrisca


Vá, anda. Não fiques para trás. Junta-te a mim nesta caminhada.
Vem. Não precisas de correr. Não precisas de esforçar o teu passo lento. Peço-te apenas que venhas comigo. que não te percas para lá daquela curva que já mal consigo ver.
Olha para a estrada que se estende sob os teus pés magros. Para quê, essa cobardia que te prende o olhar ao chão? Lá em cima, o sol brilha para ti também. Sim, a tua pele também o merece; o teu olhar é espelho que o reflecte. Como o meu.
Só tens de querer. Para descolar os pés da paragem que inventaste, tens de querer. Repete para ti mesmo que és capaz. Escreve-o na pele, se achas que as palavras te darão mais força. Grita-o bem alto, se precisas de o ouvir de ti mesmo. Mas não desistas. Não deixes que a paisagem te passe à frente, enquanto descansas.
E se, por demorares mais um pouco, perderes a boleia, sorri. Ri-te, como se te fizessem cócegas. Não, não elouqueceste. Se perderes a boleia, acredita que o passeio será mais prazeiroso pelo teu pé.
Há sempre uma razão para tudo. Podes não compreendê-la agora, neste momento. Mas nunca deixes de procurar entender. Muitas vezes, a meio dessa busca, verás que sempre a soubeste.
Por isso, vem. Junta-tea mim. Não, eu não perdi a boleia que passou. Deixei-a simplesmente ir. Prefiro percorrer esta estrada como se fosse única. Descobri-la e não deixar que ela se desvende por completo. Sempre gostei do paladar adocicado dos mistérios.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

I can do it



Pensei que não seria capaz, sabes. Marquei-o na mente com um risco. Dei-lhe o nome de impossivel. Desde a primeira vez que esse pensamento tocou o meu eu, desde que, pela primeira vez, deixei que esvoaçasse pelo labirinto das minhas ideias, como as boboletas experimentam as novas asas, que decidi que não iria conseguir. Afastei-o de mim, a esse pensamento rebelde que tentava conquistar-me. Cheguei a gritar-lhe, acreditas?
Tive medo, sim. O novo é algo que sempre nos intimida. Especialmente quando esse novo não nos foi antes apresentado; quando surge sem que nos dê tempo para o projectar. E, como não sou boa a escrever inícios, obriguei-me a por-lhe um fim. Escrevi-lhe um ponto final antes mesmo de ele começar. Mas hoje acordei e senti que me enganara. Hoje pareceu-me possivel esse sonho que andava perdido no vazio na minha íris. Apaguei o risco que com tanto cuidado tatuara sobre ele. E falei-lhe de mansinho para que voltasse para perto de mim. Sim, houve uma altura em que pensei não ser capaz. Mas não hoje. Agora, a folha já não me surge com um ponto redutor, mas sim com um espaço aberto para uma história nascer.

terça-feira, 19 de abril de 2011

"Send a wish upon a star...

... Send a question in the wind"

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Titanic - 99 anos de memórias


Existem histórias que se tornam intemporais. Sobrevivem ao tempo e à distância. Resistem à névoa das lendas. Permanecem algures, entre a realidade e o sonho.

Há 99 anos, uma história assim começou a ser contada. Bruce Ismay deu-lhe voz. Thomas Andrews, forma. E, mais de 2200 pessoas deram-lhe vida. Foi há 99 anos que as águas do Atlântico Norte saborearam o navegar de um navio inesquecível, o RMS Titanic. A sua história faz parte do imaginário de todos nós. Quer seja pelo mistério, pela beleza, pela tragédia ou pela capacidade que ainda hoje ele tem de nos fazer sonhar, o Titanic mantém-se entre nós. Mesmo depois de quase um século, a história deste navio continua a fascinar a mente daqueles que ousam mergulhar no impossível, em busca dos sonhos.

14 de Abril marca o dia em que o destino foi mais forte que os desejos de milhares de pessoas. Foi neste dia, há 99 anos atrás, que o Titanic terminou a sua viagem, arrastando para o fundo do mar muito mais que um casco e objectos valiosos. Com ele, submergiram 1500 vidas esperançosas de uma destino melhor, e um emaranhado de mistérios que ficarão eternamente por desvendar.

Mas há outra forma de lembrar este dia. Hoje, 14 de Abril, é dia de relembrar as suas memórias. É dia se pegar na caneta e continuar a escrever a história deste navio. Porque agora que o Titanic não pode ser de ninguém, é altura de fazer dele um bocadinho de todos nós.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

DIz-me onde te dói

Diz-me onde te dói. Diz-me qual é o músculo que te massacra, ou a ferida que faz a tua pele arder. Pousa a mão sobre a tua dor. Para que possa também eu chegar lá. Para que possa procurar um remédio que te alivie. Não fiques em silêncio. Eu sei que, algures, uma dor te trespassa o corpo. Podemos partilhá-la. Sim, se me contares onde ela está, talvez possamos parti-la ao meio. Rasgá-la sem piedade para que, a ti, não doa tanto. Aponta-me o lugar onde esse algo, que não sabes explicar, se partiu. Eu sei que encontraremos uma forma de voltar a colar os bocadinhos que se espalharam. Por favor, não contenhas o grito que te causa. Não finjas que não te dói. Eu sei que sim. Mesmo que não possas mostrar-me o sítio exacto onde te magoaste, eu sei que ela existe. Há feridas que a nossa íris não consegue reflectir. Mas tens de me dizer onde se escondeu essa dor que reprimes fechando longamente as pálpebras. Diz-me onde te dói, para que possa trazer o curativo e, assim, levá-la para longe – a essa dor que pousou sobre o teu peito.

terça-feira, 29 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

I wonder why

"I look in the mirror...

... and I’m weaker than my reflection."
Ane Brun - On Off

sexta-feira, 4 de março de 2011

Frágil

Voltei a ver-te. Tinhas prometido que esse teu lado não regressaria, que não deixarias que os pesadelos te ensombrassem de novo. Mas eu voltei a ver-te, a esse teu eu nu e desprotegido.
Desta vez, porém, não me pediste que fosse embora. Desta vez, em silêncio, desviaste o olhar para a sombra e sussurraste-me que ficasse. Não tinhas de o fazer, mas tê-lo ouvido das tuas palavras mudas, provou-me que estava certa quando resolvi ficar por perto.
Aproximei-me do teu corpo frágil e, antes de te tocar, olhei atentamente para ti. O teu medo mascarava-se em lágrimas transparentes. Deixavas que escorressem pela pele até se atirarem, desprotegidas, do teu queixo para o teu colo. Estavas aconchegado em ti mesmo.
Toquei-te a roupa. Estava húmida. Suponho que estivesses nesse choro pouco contido há bastante tempo. Depois, agarrei uma das tuas mãos. Sem força. Só queria dar-te a sensação quente da pele contra a pele.
Não me afastaste, como julguei que farias. Deixaste que acarinhasse a tua pele, como quem faz cócegas a uma criança. Não te mexeste. Não reagiste sequer ao meu contacto. Apenas me fizeste perceber que te era confortável. Com a ponta dos dedos percorri todas as linhas da tua mão que, pouco a pouco, foi ficando mais quente.
Não sei dizer por quanto tempo ficámos assim. Em silêncio. Sem que olhasses sequer para mim.
Depois, lentamente, senti que as gotas de água que caiam do teu rosto fraquejaram, até se extinguirem por completo. Foi então que o músculo da tua mão se mexeu. Um dos teus dedos pousou sobre os meus e apertou-os. Senti um arrepio percorrer-me todo o corpo, mas mantive-me serena.
Não foi preciso que dissesses a palavra. Sabia que a tua voz não tinha força, e os teus olhos estavam translúcidos de mais para a reflectir. Naquela tarde, bastou o toque da tua pele contra a minha para saber que estavas grato. E sem dizeres nada, disseste tudo aquilo de que precisava para te poder ajudar.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Quebra de inspiração

Hoje, quando peguei na caneta, não soube escrever. Senti que as palavras se tinham esgotado, ou, talvez, fosse somente o meu pulso que não tinha força para segurar com firmeza aquele objecto que sempre transformara os meus pensamentos em palavras.
Hoje, depois de longos minutos a olhar para o papel, não se desenharam letras pelo branco da folha, nem nenhuma história abalou o silêncio das linhas vazias.
Lá fora chovia. Dissipava-se uma leve cortina de água pelo ar e um cheiro a terra molhada que, em tantos passados dias, me inspirara.
Mas não hoje. Esta manhã, quando abri este pequeno caderno, o nevoeiro que se espalhava lá fora não me refrescou as ideias. Talvez mais logo, os meus pensamentos se encontrem com a caneta deixada sobre a mesa, e deixe que as palavras respirem, ao correrem por uma qualquer folha de papel.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Aquele lugar


Eu tenho um sonho. Sei que não o podes ver. Não sou capaz de to contar, desculpa. Há segredos que são demasiado secretos para serem delineados em palavras que mais não fazem do que feri-los com o peso da realidade.
É por isso que, nas tardes frias em que se vêem rasgos de azul do céu de Inverno, vou até àquele lugar à beira-mar. Ali sinto verdadeiramente que vale a pena. Sinto que o outro lado do oceano não é tão inalcançável como parecia, nem o medo tão poderoso.
Há alturas em que aquele lugar é o melhor companheiro: para me encontrar comigo mesma e assim te poder encontrar a ti. Naquele lugar, que mais ninguém conhece, sou forte, porque o meu sonho parece possível…

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Noite sem luz

Noite. Cabelos soltos. Vento.
Inspiro.
Depois, novamente a noite. Frio. A minha pele arrepiada reflecte a pouca luz que a cidade tem para dar.
Expiro. Uma coluna de vapor dissipa-se à minha frente.
E a noite permanece a mesma. Silêncio. Sobretudo silêncio. Mas também vivem algumas vozes. Palavras distorcidas pelas buzinas dos carros ou pelo som dos saltos das mulheres contra a calçada. Não interessa ao certo. O que importa, nesta noite sem luz, é que não as compreendo.
Arrepio. O vento balança o meu corpo inerte e mergulha no meu pescoço. Sinto as costas geladas. As minhas mãos tremem com o choque. Mas não me mexo. Não as encosto, nem fricciono. Não aperto sequer o casaco. Nesta noite sem luz quero senti-lo. Foi para isso que vim. Quero que o ar frio me percorra o corpo e leve toda a quentura que me resta. Quero senti-lo. O frio.
Inspiro e retenho o ar dentro de mim por um pouco mais de tempo. Nesses segundos, apercebo-me de uma menina pequena que brinca com as nuvens de ar quente que expele quando expira. Só consegue fazê-lo graças ao calor que o seu corpo guarda e protege.
O meu parece ter-se esquecido de como produzi-lo. Nesta noite sem luz, as minhas mãos perderam a cor rosada. Estão brancas e geladas.
Expiro. E quando o faço, confiante de que não existe mais nenhuma chama dentro de mim, solta-se uma névoa branca, em frente dos meus olhos. A menina que me observa, sorri-me ingénua, apontando para a nuvem de ar quente que é levada pelo vento.
Sorrio-lhe de volta. Aperto o casaco contra a pele e deixo que as minhas mãos escorreguem para os seus bolsos. Depois, olho o chão e volto a andar. A noite continua sem luz, mas o frio passa por mim sem mergulhar nas minhas veias.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Segredo



Vou-te contar um segredo. Shhh... Escuta-me apenas. Não digas nada que possa levar-me, sem querer, as palavras que tenho na ponta da lingua.
Quero segredar-te um pensamento, uma história que mais ninguém conhece ou pensa existir. Será o nosso segredo. Aquilo que partilharemos, daqui em diante, com um simples olhar. Aquilo que nos fará sorrir, discretamente, quando outras pessoas estiverem por perto.
Espera, deixa apenas que a noite caia. A luz pode roubar-nos o intimismo. Os segredos precisam de ser protegidos, guardados em caixinhas de veludo e arrumados em cantos que mais ninguém conheça. Onde só tu e eu saibamos ir buscá-los, quando se torne doloroso guardá-los por mais tempo.
Sim, um segredo... Não é empolgante?
Confias em mim? Então chega mais perto. Encosta o teu rosto ao meu, para que possa sussurrar-te ao ouvido estas palavras. Pronto?
"Obrigada".

Agora não te esqueças. Guarda esta caixinha junto ao coração. Para que nunca a percas e para que, quando mais fraco, te lembres que há alguém que acompanha o ar a percorrer-te as veias...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pensa nisto

"E é como quando pensas que estás a chegar...

...e não deste um passo."

Na boca do mundo, Mesa