domingo, 29 de agosto de 2010

Distância


Hoje, enquanto caminhava por aquela estrada deserta, houve uma palavra que cortou o silêncio, fugida da melodia que se desdobrava pela minha mente.
Olhei vagamente em meu redor e tentei com força perceber o seu significado ali, naquele preciso contexto.
Distância. Será que estarei distante somente daquilo que se encontra longe? E o que é estar longe? A partir de que ponto te considero perto de mais?
Continuei a caminhar. Para trás ficava um ligeiro sulco no chão, onde se diferenciavam as minhas pegadas. Estava a afastar-me delas, a construir um espaço entre o meu corpo e elas. Mas, e se, no meu pensamento, o meu corpo ali continuasse? Se na minha mente eu não tivesse dado um único passo, será que essa distância se anularia?
Pensei em ti. Não estavas em nenhum dos ângulos do meu olhar. Claro que não. Estás longe, desde o dia em que o caminho nos separou os corpos. Mas e se as almas estiverem próximas, se sentir que me tocas, como se aqui estivesses, onde fica a distância?
Continuo a andar. As minhas pegadas ficam já para lá daquela curva. Já não as posso ver. Estão longe, tal como tu. A elas mal consigo imaginar os traços. O espaço que se prolonga entre o meu corpo e aquela curva foi suficiente para as esquecer. A distância ganhou.
A ti, porém, sinto-te.
Percebo que há coisas que essa palavra não separa. Pergunto-me como é possível que um simples conjunto de letras perfeitamente conjugadas seja capaz de afastar lugares, apertar abraços, roubar, de um instante para outro, aquilo que temos perto.
Mas julgo que o importante não é o espaço físico. O que realmente conta é o abstracto, aquele que só eu tenho o poder de construir. Aquele que me permite estar perto daquilo que fica longe, e fugir daquilo que ameaça tocar-me, mesmo que para os outros, permaneça a quilómetros de distância.

domingo, 8 de agosto de 2010

Inspiração

[À espera de inspiração]