quarta-feira, 29 de julho de 2009

Acredita


Acredita.
Simplesmente acredita. Mesmo se souberes que és o único. Mesmo quando não for correcto acreditar.
Acredita que és capaz; que os outros também o serão. Que um dia a noite sucumbirá perante um suceder de dias de sol que farão o teu olhar brilhar.
Acredita.
Crê em ti e naqueles que te estenderão a mão quando se sentirem a desistir também.
Acredita no salgado do mar mesmo quando os teus passos se afastarem da rebentação. Acredita no doce daquela flor mesmo quando a neve do Inverno a revelar invisível.
Tu sabes que eu também irei acreditar. Por isso não desperdices este dia a olhar pela janela do teu quarto.
Acredita.
Acredita que consegues saltá-la, que consegues correr até ao fundo da rua; que na esquina vais encontrar o reflexo do teu olhar.
Acredita quando te disserem “sim” e quando as letras perfizerem o “não”. Acredita porque o queres e não porque to suplicam. Não precisas de mostrar que o fazes. Basta que os teus músculos o saibam e não parem de se mexer.
Acredita.
Acredita naqueles que te sorriem; naqueles que te olham com admiração. Acredita nas lágrimas que te pedem ajuda e no desespero daquele que te olha de mão estendida. Acredita no amor e na sua força encorajadora. Acredita no ódio e afasta-o do teu peito. Acredita no bom e crê que consegues viver sem o mau.
Não finjas que dormes.
Acredita porque eu acredito em ti.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sonhar de olhos abertos



Imagine there's no Heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too

Imagine all the people
Living life in peace
You may say that I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man

Imagine all the people
Sharing all the world
You may say that I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one

Imagine
John Lennon

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sentes a minha pele?...

Sentes a minha pele?
Sentes o calor que dela emana?
És capaz de saber que eu te toco
Como só o faz quem ama?

Ouves a minha voz?
Percebes as palavras que te dedico?
Será que entendes que sem as tuas
É numa noite em silêncio que fico?

Vês o meu olhar?
Olha e vê como brilha por te ver
Porque é que apagaste as luzes do caminho?
Porque não me deixas voltar a perceber?

Dá-me a tua mão
Sou apenas eu, aquela que nunca estranhaste
Abre-me de novo o teu coração
Volta a falar-me com o carinho que mostraste

Prometo ficar a ouvir-te em silêncio
Como se te confessasses ao Oceano
Deixa sair tudo o que te magoa
Sei que não és cruel, és humano

Mas enquanto finges não me ver
Enquanto me impedes de te tocar
Prometo ficar apenas a olhar-te
Espero o momento em que saibamos não nos magoar

domingo, 19 de julho de 2009

Tatuar pegadas


Diz-me do que foges.
Do que tens medo, afinal?
Diz-me como te acalmar, como adormecer o pesadelo que te mantém acordado.
Suspiras em desespero. Pedes ajuda num grito mudo para que ninguém corra para ti. Porquê. Era o que esperavas que perguntasse. Mas não o farei.
Diz-me quem te prendeu nessa gaiola de insegurança. Conta-me porque perdeste as forças para a saltar.
Corres. Buscas fora de ti algo que te pertence. Algo que nenhum outro te poderá dar.
Pareces tão frágil mas guardas um grito que juraria não poder existir.
Olhas inerte o horizonte. Olha-lo como se o respirasses. É para lá que corres? Onde fica esse lugar? Sabes?
Vais dizer-me?
No dia em que a tua pegada ficar marcada na areia, como se o mar acalmasse e as ondas não mais varressem os nossos passos, dizes-me?
Ou vais cumprir esse juramento? Vais ser fiel à brisa que te trouxe e que me fizeste saber um dia te tornaria a levar…
Eu sei que choras para lá desse sorriso. Sei que gritas no silêncio desenhado pelas palavras fingidas.
Nas noites de trovoada escondes-te a um canto e procuras as estrelas. Tens medo. Mas sabes que ninguém te estenderá a mão, nessas noites.
Não queres sair à rua neste dia de sol? Porque preferes correr quando a chuva te lava a pele?
Não preferias respirar a brisa fresca em detrimento da poeira do teu castelo abandonado nas dunas?
Pintaste nas paredes a solidão em que te deixaram. Pensaste que ninguém a leria. Pensaste que não teria coragem de lá entrar.
Mas também eu sentia medo na noite de tempestade e dei esses passos. Procurei-te mas tu escondias-te tão profundamente que a noite caiu.
E estou aqui. Sentada a teu lado no chão frio destas muralhas. Só venho limpar-te as lágrimas que escorrem pela tua face, invisíveis aos olhos. Só venho ficar a teu lado nas noites de trovoada. Para que não tenhas medo.
Não pares de correr, de enterrar as pegadas no areal. Mas corre quando o sol te beijar a pele. E quando estiveres cansado volta o rosto para o mar e procura de novo o horizonte.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Frágil...

Olhou em redor. Susteve aquele suspiro que lhe cortava a respiração e fechou os olhos.
Só depois respirou. Inspirou profundamente e sentiu o puro do ar exterior invadir-lhe o corpo.
Estava tudo tão calmo. Ou pelo menos conseguia não sentir nada, nem sobressalto, nem harmonia.
Sentou-se sobre o chão e fechou-se sobre si mesma. Agora, ali, nada mais a perturbava.
As horas passaram. As cores da natureza transformaram-se. Em si tudo se manteve inalterado.
O mundo parecia ter adormecido finalmente. Tal como suplicara nas horas de desespero.
Por fim algo serpenteou pelo seu olhar. No negro desenhado pelas suas pálpebras encerradas uma sombra fê-la despertar daquela apatia. A calma era, porém, tão magistral que preferiu não ter reacção.
Depois um arrepio surripiou pela sua pele. Algo pousara sobre o seu braço nu.
Num esforço do qual pensara não ser capaz segundos antes, ergueu o rosto e reabriu os olhos. A luz era intensa lá fora, fora do escuro no seu intimo.
Rodou o pescoço e contemplou o pulso magro. Uma onda de cor e seda mergulhou nos seus olhos cristalinos.
Uma borboleta.

As suas asas pareciam ir desfazer-se caso um sopro de vento mais forte lhe tocasse o corpo, mas o azul que emanavam era profundo. Forte.
Parecia tão frágil. Não teria medo de voar?
Ela olhou-a. Em breves segundos, a frágil borboleta levantaria voo da sua pele fria e enfrentaria o mundo que tanto a assustava.
Esticou o braço e ficou a mirá-la. Era deslumbrantemente bela e perfeita.

Será que o mundo lá fora a merecia?
As suas pequenas antenas rodaram na sua direcção. Por breves instantes teve a certeza de que o pequeno animal a observava. Depois soltou as asas sedosas e agitando o ar em seu redor deixou-se deslizar na brisa do anoitecer.
Ficou a observá-la como se olhasse a sua vida a serpentear à sua frente.


Na noite seguinte sentou-se sobre a pedra meio quente da rua. Não voltaria a fechar os olhos ao mundo que a abrigava.
Não o faria por nenhuma razão misteriosa. Queria somente que, quando a frágil borboleta a visitasse, os seus olhos encaminhassem as suas asas para o descanso da sua pele. Para que ambas partilhassem o momento de sossego no refúgio do mundo inquiridor.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Abraça-me

Aproxima-te. Não fiques tão distante, tão longe do alcance da minha mão.
Chega mais perto. Acosta-te ao meu coração. Só um pouco mais profundamente. Só para que te possa sentir mais dentro.
Dá mais um passo. Só mais um. Só então estaremos juntos o suficiente. Só então deixarei que o meu braço se estenda em frente do teu e te toque a pele arrepiada.
Ergue o rosto. Deixa que te leve esses sonhos cruéis. Deixa que a luz toque os teus olhos tão adormecidos no negro triste da noite. Deixa que os meus toquem os teus num sussurro que mais ninguém possa ouvir.
Toca a minha pele. Agarra a minha mão e aperta-a forte contra ti. Agarra-a com força, só um pouco mais. O que sentes? Protecção? Ofereço-ta sem preço. Ofereço-ta para que amanhã me a possas emprestar naquele momento difícil que sei que virá.
Agora estende o braço. Num último esforço, um último suspiro de alívio, numa busca de vida fora de ti. Pousa-a delicadamente sobre o meu ombro e chega-te mais perto.
Encosta o teu corpo ao meu e envolve-me nos teus braços quentes. Pergunta-me o que sinto…O medo desapareceu.
Sussurra-me algo ao ouvido. Palavras das quais não vá lembrar-me mais tarde, daquelas que durem só um momento mas que afastem os pesadelos.
Aperta o meu peito contra o teu e encosta o teu rosto sobre o meu ombro. Solta os teus medos e leva os meus. Podemos ficar assim eternamente. Neste abraço que mais ninguém compreenderá.
Fecha os olhos. Encosta as duas pálpebras adormecidas. Recorda o último abraço, a quentura que trouxe ao coração. É lá que sempre as inseguranças ficarão guardadas. O fundo da tua alma que partilhas de cada vez que este laço é apertado.

domingo, 12 de julho de 2009

Saudade




Estranha palavra, essa
Que nos inunda por vezes o ser
Abala tudo como uma onda
E, nos deixa sós a sofrer

Sem ninguém dar por si
Envolve e aperta o coração
Invade-nos o pensamento e a alma
Tornando o intimo uma confusão

De repente preenche-nos o olhar
E faz murchar a Primavera
Tudo à nossa volta esmorece
E nos faz pertencer a outra era

Temos vontade de fugir
De gritar por liberdade
Mas quanto mais a afastamos
Mais ela aperta e nos invade

As lágrimas escorrem pela face
Como cristais que choram também
Tentamos agarrá-los, desfazê-los
Para que os não veja ninguém

É esse um sentimento puro
Que não podemos controlar
Permanece calado e mudo
Até que a distância o faz disparar.

sábado, 11 de julho de 2009

Silêncio

Soam vozes, gritos, palavras imperceptíveis ou às quais somos, pelo menos, indiferentes. Cercam-nos intermináveis luzes ofuscantes, brilhos tremeluzentes, muitas vezes reflexos do sol transparecido nas janelas em redor. Caminhamos com passos pesados sem rumo à vista, ou acorrentados a uma rotina que esconde o mesmo horizonte. E, finalmente, chegamos a casa, deixamos cair o corpo cansado sobre uma almofada aconchegante e, então, fechamos os olhos e procuramos esse silêncio. Pensamos que, como por magia, todo o resto do mundo deixará de existir, tudo porque, naquele instante, nos percorre uma necessidade de calma, de não sentir nada, ou melhor, de fingir que aquilo que se sente não é importante. O silêncio é afinal um destino; buscamo-lo como a uma meta, mas torna-se muito mais difícil de se achar que qualquer caminho ou fim do mesmo.
Gosto desta palavra e gosto simplesmente pelo que transmite, como que se por simplesmente a deixar deslizar pela minha língua, fosse já possível alcançar o estado a que remete. O silêncio não é uma ordem, não é uma pretensão, acaba por ser apenas um vazio, uma forma de estarmos connosco mesmos. E, às vezes, queremos tanto pegar-lhe, alcançá-lo que basta pensarmos no silêncio para que surja na nossa mente um xiu interior, e tudo se torne profundamente calmo.
Algo me leva, porém, a acreditar que esse dito silêncio não existe, pelo menos não na forma que lhe damos. O que me faz lembrar o silêncio? O escuro, um lugar sem focos de luz intimidantes, onde não há sombras nem movimentos que sem querer acabam por roubar o sossego. Sim, mas e esse lugar existe? Pensando com afinco descubro que não. Nem a noite mais escura sem estrelas ou sem aquele luar brilhante que faz parecer que o sol apenas perdeu intensidade consegue ser totalmente negra. O escuro é assim uma palavra ilusória.
O que mais me faz pensar no silêncio? Ausência de ruído, uma absoluta inércia de som ou de vozes, por mais tranquilizantes que o sejam. Pensemos nisso: ausência de som. Seria isso possível? Olharmos em redor, buscarmos o que nos rodeia sem que qualquer ruído fosse notado? Acho que não. Há, de facto, momentos em que pensamos ter chegado a esse estado, em que tentamos com tal força da mente que tudo se cale para ouvirmos apenas o vazio, que julgamos estar em silêncio, mas é igualmente ilusório. Se simultaneamente não houvesse vento, nem a proximidade das ondas do mar a bater nas rochas e todos dormissem, inclusive os animais, mesmo o mais pequeno insecto, outros barulhos surgiriam. Iríamos aperceber-nos da existência de coisas que até então desconhecíamos - ou ignorávamos - como o bater compassado do nosso coração, que então pareceria querer fazer ouvir-se mais que nunca.
Silêncio. Começo a pensar que tenho vivido enganada. Começo a aperceber-me de que o silêncio é uma forma egoísta de fazer com que, num momento escolhido a meu querer, o resto do mundo deixe de viver, tudo para que eu possa descansar tranquilamente. Quem sabe se, neste momento, um outro alguém, novo ou velho, feliz ou triste, busca um recanto pacato, um silêncio absoluto, e eu, eu que me julgo capaz de o definir, quebro essa possibilidade provocando um estranho ruído com a ponta da caneta contra esta folha branca. Para mim está o silêncio perfeito, mas para esse outro, qualquer perturbação pode quebrar a sua calma. É o que estou a fazer.
Apercebo-me de que o silêncio não pode ser apenas físico; é antes algo interior. Sim, o silêncio deve, antes de mais, ser conseguido na nossa mente. Fechamos os olhos, tentamos apagar os vestígios dos ruídos do nosso pensamento e deixamos que o escuro produzido pelas pálpebras fechadas e a ausência de som provocada pela nossa mente vazia saltem cá para fora. Parecerá então que todo o mundo se calou para nos deixar dormir, e que todas as luzes limaram as arestas para não nos ferir. Silêncio.
Sim, acho que é isso que sentimos: silêncio. E desta vez não fomos egoístas. Desta vez, não mandámos calar as pessoas em redor; nem desejámos a noite mais negra quando duas crianças brincavam ao sol; desta vez, conseguimos alcançar o que queríamos sozinhos. Acho que é afinal isso o silêncio. É deixarmos que seja a paz a vir ter connosco, da forma como dela precisamos no momento, sem que ela falte aos outros, da forma como dela também precisam nesse instante.
E enquanto leio estas palavras? Também quebro o silêncio? Se para mim ler é tranquilizante penso que não, mas e se numa ocasião as palavras me gritam ou choram, como posso ignorar o som?
Afinal o silêncio é difícil de definir. Acho, enfim, que basta pensá-lo e esperar que esse esforço acalme a mente sem que a deixe adormecer, sim, porque corremos o risco de ter um pesadelo, onde os ruídos estilhacem, como que se de um cristal se tratasse, o silêncio que havíamos conseguido.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Respirar

Preparo-me como de todas as outras vezes
Mantenho-me hirta, estática, serena
Dou um passo, só mais um único passo
Paro então, e deixo-a atingir-me plena

Primeiro abala-me como uma onda
Sinto que quase me derruba no chão
Não luto contra a sua chegada
Deixo que o arrepio chegue primeiro ao coração

Finalmente sinto-a vaguear pelo corpo
Percorre-me num sopro, um instante
Lava-me a alma, varre-me a pele suja
E quando me liberta tudo fica distante

A sensação de arrepio permanece
Como a água no fim da tempestade cruel
E só então reabro os olhos agora adormecidos
E vejo como tudo é simples como uma folha de papel

Expiro
Olho o relógio
Mais um segundo passou

A última lufada de ar atingiu-me como uma onda
Varreu a areia que se acostara ao coração
Lá deixou o espaço para uma nova onda de ar fresco
Aquela que me atingirá o corpo, beijando primeiro a minha mão

Respiro novamente
O sufoco passa por momentos, como sempre
A praia está deserta, a areia recuou aos meus pés
As ondas de espuma formam-se à minha frente

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Apenas uma ideia de cansaço...

Folhas rasgadas e dispersas, sombras onde antes havia pessoas, um silêncio constrangedor onde reinava uma agitada sinfonia de ideias transpostas em papel. Podia ser este o retrato dos vestígios de um velho jornal, de um lugar onde já antes milhares de novidades afluíram, onde se criaram histórias, se enalteceram lágrimas e reproduziram sorrisos. Podia ao menos sobrar a imagem de lembrança, o reconhecimento, aquela estranha sensação de olhar um sítio onde, apesar de o nosso passado não ter pisado, se consegue vislumbrar tudo como no outrora findo.
Estranhamente nenhuma destas sensações me aflorou a pele, nem mesmo um sensível entusiasmo, ao percorrer os locais onde antigamente outros iniciaram a jornada que se me afigura. Apenas uma ideia de cansaço, de fim de história e talvez até de saudade foi transparecida pelas vidraças das janelas fechadas ou destruídas dos edifícios antigas sedes de jornais. Nesse passado nunca esperariam, de certo, este futuro que parece ter-se esquecido como simplesmente levantar a caneta para rabiscar uma palavra.
As ruas sujas do Bairro Alto mostram agora outras ideias; revelam uma nova geração de pensadores e “artistas” se assim se pode chamar a esses que deixam o seu rasto de tinta pelas paredes, numa tentativa de se auto afirmarem.
Ironicamente acabo por conseguir fazer uma analogia com esse passado tão apagado. Também antes o Bairro Alto era sinónimo de jovens mãos irrequietas que se mantinham a pé toda a madrugada, marcando palavras e ideias novas lidas na manhã seguinte por uma multidão de olhos atentos aos ardinas madrugadores. É precisamente aí que reside a diferença: porque se dantes eram as folhas a preto e branco dos matutinos e vespertinos, agora tornou-se tudo bem mais fácil e até mais barato. As noites continuam vivas pelas ruelas do bairro que não dorme e a luz do dia traz ao de cima uma manchete de cor e palavras vivas.
Qual é então a diferença?
As folhas cinzentas distribuídas com o sabor a recompensa já não saem quentes pelas ruas do agora aparente bairro fantasma. Saltam aos olhos de quem passa outro tipo de palavras, outro género de caligrafias, com um sabor a abandono, a vandalismo. Graffiti, sim, acho que é esta a nova palavra de ordem, aquela que substituiu a de informação, e tentou apagar a marca do trabalho, pintando morais de rebeldia. De grandes nomes como “A Capital”, “O Mundo”, “O Século” restam as memórias, as letras dispersas e quase inaudíveis por entre as conversas dos mais velhos, aqueles que sentados sobre os bancos dos cafés do bairro parecem nem reconhecer as fachadas desses jornais onde tantas notícias nasceram.
Continuo a caminhar. Um sorriso rompe-me na face. Finalmente descubro que o coração do trabalhador Bairro Alto não parou por completo. Escondido numa das ruas escuras, o jornal “A Bola” parece fiel ao passado. É o único que sobrevive rodeado agora pelas paredes negras e rabiscadas da presente liberdade.
Perco-me em pensamentos, em desilusão. É esta a imagem do futuro; é este o fim de linha de anos de trabalho; a última edição de um mundo de jornais que ficou perdida no tempo, à espera de ser notícia.

Crónica sobre o Bairro Alto elaborada para a cadeira de LGJ

Sound the Bugle

Sound the bugle now - play it just for me
As the seasons change - remember how I used to be
Now I can't go on - I can't even start
I've got nothing left - just an empty heart

I'm a soldier - wounded so I must give up the fight
There's nothing more for me - lead me away...
Or leave me lying here

Sound the bugle now - tell them I don't care
There's not a road I know - that leads to anywhere
Without a light feat that I will - stumble in the dark
Lay right down - decide not to go on

Then from on hight - somewhere in the distance
There's a voice that calls - remember who your are
If you lose yourself - your courage soon will follow

So be strong tonight - remember who you are
Ya you're a soldier now - fighting in abattle
To be free once more -Ya that's worth fighting for

Banda sonora do filme Spirit
Bryan Adams

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Há sempre um início

Começar. Esta é definitivamente uma das palavras que tenho na lista das coisas difíceis. Não pela dificuldade de a escrever. É, pelo contrário, uma palavra simples de desenhar no papel. Complicado é perceber que ela tem de ser posta em prática.
Começar alguma coisa é sempre um compromisso. Decidimos que queremos iniciar algo, logo devemos ter a ideia de um dia a terminar. E penso que é isso que torna os "começos" sempre tão adiados...porque, no fundo, esse fim me intimida profundamente.
Pensando bem acho que sou uma fugitiva, tanto dos começos como dos finais. Prefiro escrever os "meios" e prefiro também pô-los em prática.
Mas hoje peguei na caneta, alisei a folha branca de papel e consegui: escrevi a primeira palavra. Sim, acho que foi isso que fiz, um começo. Começo de quê? Ainda não sei ao certo. Mas até hoje nenhuma palavra me levou a um qualquer rumo que não soubesse conhecer. Bastou que parasse a ouvi-las...a respirar a sua essência.
E é isso que vou continuar a fazer, a respirar as palavras...