quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Aquele lugar


Eu tenho um sonho. Sei que não o podes ver. Não sou capaz de to contar, desculpa. Há segredos que são demasiado secretos para serem delineados em palavras que mais não fazem do que feri-los com o peso da realidade.
É por isso que, nas tardes frias em que se vêem rasgos de azul do céu de Inverno, vou até àquele lugar à beira-mar. Ali sinto verdadeiramente que vale a pena. Sinto que o outro lado do oceano não é tão inalcançável como parecia, nem o medo tão poderoso.
Há alturas em que aquele lugar é o melhor companheiro: para me encontrar comigo mesma e assim te poder encontrar a ti. Naquele lugar, que mais ninguém conhece, sou forte, porque o meu sonho parece possível…

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Noite sem luz

Noite. Cabelos soltos. Vento.
Inspiro.
Depois, novamente a noite. Frio. A minha pele arrepiada reflecte a pouca luz que a cidade tem para dar.
Expiro. Uma coluna de vapor dissipa-se à minha frente.
E a noite permanece a mesma. Silêncio. Sobretudo silêncio. Mas também vivem algumas vozes. Palavras distorcidas pelas buzinas dos carros ou pelo som dos saltos das mulheres contra a calçada. Não interessa ao certo. O que importa, nesta noite sem luz, é que não as compreendo.
Arrepio. O vento balança o meu corpo inerte e mergulha no meu pescoço. Sinto as costas geladas. As minhas mãos tremem com o choque. Mas não me mexo. Não as encosto, nem fricciono. Não aperto sequer o casaco. Nesta noite sem luz quero senti-lo. Foi para isso que vim. Quero que o ar frio me percorra o corpo e leve toda a quentura que me resta. Quero senti-lo. O frio.
Inspiro e retenho o ar dentro de mim por um pouco mais de tempo. Nesses segundos, apercebo-me de uma menina pequena que brinca com as nuvens de ar quente que expele quando expira. Só consegue fazê-lo graças ao calor que o seu corpo guarda e protege.
O meu parece ter-se esquecido de como produzi-lo. Nesta noite sem luz, as minhas mãos perderam a cor rosada. Estão brancas e geladas.
Expiro. E quando o faço, confiante de que não existe mais nenhuma chama dentro de mim, solta-se uma névoa branca, em frente dos meus olhos. A menina que me observa, sorri-me ingénua, apontando para a nuvem de ar quente que é levada pelo vento.
Sorrio-lhe de volta. Aperto o casaco contra a pele e deixo que as minhas mãos escorreguem para os seus bolsos. Depois, olho o chão e volto a andar. A noite continua sem luz, mas o frio passa por mim sem mergulhar nas minhas veias.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Segredo



Vou-te contar um segredo. Shhh... Escuta-me apenas. Não digas nada que possa levar-me, sem querer, as palavras que tenho na ponta da lingua.
Quero segredar-te um pensamento, uma história que mais ninguém conhece ou pensa existir. Será o nosso segredo. Aquilo que partilharemos, daqui em diante, com um simples olhar. Aquilo que nos fará sorrir, discretamente, quando outras pessoas estiverem por perto.
Espera, deixa apenas que a noite caia. A luz pode roubar-nos o intimismo. Os segredos precisam de ser protegidos, guardados em caixinhas de veludo e arrumados em cantos que mais ninguém conheça. Onde só tu e eu saibamos ir buscá-los, quando se torne doloroso guardá-los por mais tempo.
Sim, um segredo... Não é empolgante?
Confias em mim? Então chega mais perto. Encosta o teu rosto ao meu, para que possa sussurrar-te ao ouvido estas palavras. Pronto?
"Obrigada".

Agora não te esqueças. Guarda esta caixinha junto ao coração. Para que nunca a percas e para que, quando mais fraco, te lembres que há alguém que acompanha o ar a percorrer-te as veias...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pensa nisto

"E é como quando pensas que estás a chegar...

...e não deste um passo."

Na boca do mundo, Mesa