domingo, 30 de dezembro de 2012

Reticências

O fim.
Como é que sabemos que chegámos ao fim? Qual é o momento certo para terminar algo; para encostar a caneta à folha de papel e desenhar um ponto final?
Um ponto. Já pensaste bem? Como é que um simples ponto pode significar tanto. Como é que algo tão pequeno pode fechar um ciclo que perdurou por muito tempo?
E se me enganar? Se desenhar um ponto no lugar de uma virgula. Estarei a ditar irremediavelmente o fim da história. Sem que te tenhas preparado sequer. Sem que mo tenhas pedido. Chega a ser cruel este meu poder de acabar o que alguém iniciou, não achas? Mas não te preocupes, prometo esperar pelo momento certo. Preciso apenas que me ajudes a encontrá-lo, a esse fim que não sei onde começa.
O que é suposto acontecer para que a história não continue? Não, esta não será a primeira vez que um final nasce nas minhas mãos. Outros houve escritos no meu pensamento, mas nunca antes os tatuei no papel. Talvez seja medo, sim. Receio aprisionar as personagens num fim que não é o delas. Temo desenhar um ponto onde qualquer outro deixaria uma interrogação, ou, pelo menos, o suficiente para algo continuar.
Por isso, desta vez, a única em que tive coragem de pensar no final, decidi não o escrever. Não que seja cedo de mais. Prefiro apenas escrevê-lo de outro modo, para que alguém o encontre e dele possa recomeçar...

sábado, 10 de novembro de 2012

Medo


Hoje duvidei de mim mesma. Receei errar. Tive medo que o amanhã me atirasse ao chão. Que ninguém pudesse encontrar-me. Hoje senti as mãos tremerem quando imaginei o futuro. Tive de recuar alguns passos. Apenas dois ou três, mas os suficientes para voltar a sentir-me segura.
Lembras-te de quando nos encontrámos? Tu estavas também hirto, como se algo ou alguém superior tivesse agarrado os teus movimentos. Como se a tua vida não fosse mais que um filme comandado à distância. Então, cheguei perto de ti e toquei o teu ombro. Tu não te mexeste, mas por dentro voltaste a sentir a vida.
Lembro-me dessa tarde agora. Como se as imagens se repetissem à minha frente. Sei que tudo o que preciso é abrir os olhos e enfrentar a estrada. Mas por enquanto o medo mantém-me quieta, até que, onde quer que estejas, me toques o ombro e caminhes a meu lado.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Incertezas


 
Era bom se pudéssemos saber o que seremos no futuro. O que mudou. Quem conhecemos. Aquilo em que nos tornámos. Se soubesse que, daqui a alguns anos, te teria encontrado, que casaríamos até, alguma desta tristeza atual abalaria, decerto.
Se pudesse ver-me naquele lugar de sonho, com o trabalho que imagino perfeito, juro que esta insatisfação passaria. Punha de lado o medo e começava amanhã mesmo a viver como se tudo isso tivesse já acontecido. Se soubesse que a vida me faria sorrir, deixava que os meus lábios desenhassem essa alegria agora mesmo.
Era bom se pudéssemos ver o que seremos. Mas não pudemos. Nada me diz que te encontrarei. Que iremos partilhar aquela casa naquele lugar. Nada me anuncia que terei aquele sorriso. Mas, eu sei, não é por isso que não posso sorrir agora. Entre todas estas dúvidas, essa é talvez a minha única certeza. Se não conseguir ser feliz por mim mesma, nem a tua presença tornará isso possível.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Saudade

 
Primeiro sentes que serás forte. Respiras profundamente. Abres os olhos. Sorris. Vai mudar tudo, mas tu serás forte. A mudança só levará aquilo que possas suportar.
Então, fechas os olhos. Sabes que quando os abrires a sua ausência fará desse pequeno espaço a teu lado uma cidade deserta. Sabes que irá doer, mas não desistirás. Preparaste-te para este momento. Prepararam-se juntos.
Depois, pousas a mão sobre o muro. No exato lugar onde costumava estar a dela. No sítio onde os teus dedos se entrelaçavam nos seus. E é nesse instante, dois segundos apenas, que percebes como a vida te foi roubada. A mudança passou por ti. Por ela.
Pensas em abrir os olhos. Tal como prometeras fazer. Esforças-te por descolar as palpebras. Mas não és capaz. Por enquanto não ousas dar cor à sensação da tua mão vazia.
Sentes que não serás forte. Não hoje. Nem talvez amanhã. Se quisesses conseguirias. Podias enfrentar a realidade agora mesmo. Mas não é só de força que precisas para ser forte. Bastava algo mais simples. Só precisavas de sentir que, algures onde ela está, também a sua mão busca encontrar a tua.

sábado, 14 de julho de 2012

Just friends


"Era bom saber se existe amizade realmente? Não me refiro àquele prazer ocasional que faz com que duas pessoas fiquem contentes porque se encontraram, porque num determinado período das suas vidas pensavam da mesma maneira sobre certas questões, porque os seus gostos são semelhantes e os seus passatempos iguais. Nada disso é amizade. Às vezes chego a pensar que essa é a relação mais forte na vida…talvez por isso seja tão rara. E o que há no seu fundo? Simpatia? É uma palavra imprópria, sem sentido, o seu conteúdo não pode ser suficientemente forte para que duas pessoas intervenham em defesa um do outro nas situações mais críticas da vida…apenas por simpatia?
As simpatias que vi nascer entre pessoas diante dos meus olhos, acabaram sempre por se afogar nos pântanos do egoísmo e da vaidade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas de que essa intimidade é uma espécie de amizade. Uma pessoa imagina (…) que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. E se o amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? (…) Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel?"

de As Velas Ardem até ao Fim, Sándor Márai

domingo, 10 de junho de 2012

"You show me the world as it could be"


Hoje é o dia. O ontem passou e o amanhã está longe de mais. Por isso, sim, é hoje o dia. O momento pelo qual esperas desde sempre. A hora que traz guardada em si a decisão que tomaste e não soubeste revelar a ti mesmo.
Não finjas mais. Não te obrigues a acreditar que não sabes. Sempre o soubeste. E é hoje o dia de to revelares.
Vês essa estrada? É estreita de mais para a percorreres acompanhado. É tua. Só tua. Sei que o horizonte fica longe, mas é para lá que todos caminham, noutras estradas iguais, se bem que distantes. Não vês que todos os outros já partiram? És o único que resta. Atrasado por razões que tu próprio criaste.
É hoje o dia. O teu dia. Não penses naqueles que partem acompanhados. Não serão melhor sucedidos por isso. A vitória encontrar-te-à algures pelo trilho. Basta que mantenhas os sentidos alerta e não baixes os olhos ao passar por ela.
Mas não percas este momento. Vai. Este é o dia em que ninguém mais depende de ti; em que podes procurar aquilo que queres ser. Sem ninguém a puxar-te e a pedir-te que fiques.
E não tenhas medo. Eu vou estar lá na outra ponta à tua espera. Porque o caminho tens de ser tu a percorrê-lo, mas na chegada celebraremos lado a lado.

sábado, 2 de junho de 2012

Inspirações

"A arte da vida...

...consiste em fazer da vida uma obra de arte."

domingo, 29 de abril de 2012

Entre as manhãs que sofremos


"Entre as manhãs que sofremos, entre as esperas de tudo o que não nos quis, havia uma esperança pequena. Não sabíamos que a chuva é um olhar desesperado. Não sabíamos que o frio. Entre as manhãs que sofremos, uma lágrima. E uma lágrima é morrer tão completamente. Éramos as crianças e a água. éramos as árvores. As folhas das árvores, uma aragem, os pássaros a voarem na nossa respiração. Éramos as manhãs e nós a sofrê-las, éramos uma pequena esperança. Não sabíamos que não se pode acreditar, nem sofrer, nem ser criança e água. Havia uma esperança pequena. Procurámos tudo o que não nos quis. Esperámos. Entre as manhãs que sofremos. Entre a chuva, o frio, as árvores, os pássaros. Éramos a terra triste. Éramos uma aragem. Não sabíamos que uma lágrima. Não sabíamos que a imensidão da morte é maior que uma esperança pequena."
José Luís Peixto, A Criança em Ruínas

sábado, 14 de abril de 2012

Titanic

Existem pessoas que não esquecemos. Momentos que guardamos eternamente. Histórias que permanecem intemporais. A que vos vou contar é uma dessas. Um pedaço do passado que se perdeu no tempo. Uma quase lenda que teima em ressurgir e fazer-se lembrar.
O seu nome é Titanic.
Sei que nem todos os que lerem estas palavras sentirão o mesmo que eu ao escrevê-las. É impossível traduzir nelas o misto de entusiasmo e melancolia que, para mim, o calendário hoje assinala. Sim, hoje mesmo, há 100 anos atrás terminava em tragédia uma das histórias mais promissoras de um final feliz.

Foi no dia 14 de Abril de 1912 que o Titanic chocou contra um iceberg, condenando pessoas, bens e um imenso oceano de sonhos. Sonhos dos que esperavam uma nova vida na América. Sonhos dos que viam concretizado o maior projeto de uma vida. Sonhos dos que viajavam a bordo do maior e mais belo navio construído até à época.
E hoje mesmo, passado um século sobre aquela noite, o Titanic continua a ser símbolo disso mesmo: o sonho.
Construído em Belfast a cargo de Thomas Andrews, o RMS Titanic foi batizado com um nome digno de um “palácio flutuante”. Gémeo do RMS Olympic e do RMS Britanic, era o navio mais luxuoso e moderno a cruzar o oceano no início do século XX. 
Na viagem inaugural estavam a bordo algumas das pessoas mais ricas, e também as mais pobres. Em comum, no entanto, tinham algo: ambos viam naquela travessia o marco de uma vida. A partir daquela viagem nada voltaria a ser como dantes.
O naufrágio do Titanic marcou o fim de uma época, infelizmente a custo de uma enorme perda. Naquele oceano gelado morreram mais de 1500 pessoas. A salvo ficaram dezenas de crianças órfãs. Famílias destroçadas. Mas nem tudo foi negativo. Na memória fica a lembrança de um navio que trazia esperança. A mesma esperança que restou aos quantos sobreviveram. E tal como disse poucos anos antes de morrer uma dessas sobreviventes. O Titanic era um navio lindíssimo. E é assim que ele deve ser recordado.

domingo, 1 de abril de 2012

As palavras

As palavras perderam o sentido.
As letras que desenhavam as frases deixaram de contar histórias. Por agora, apenas me surgem como símbolos sem significado. As palavras, essas, perderam a sua moral. Nada mais me confidenciam. Não prometem, como dantes, ajudar-me a falar.
Chegam a ser egoístas, estas palavras que se esgotam de conteúdo em certos momentos. Precisamente naqueles em que desejava tê-las para me exprimir. Para deslindar aquilo que o coração não sabe dizer de outra forma.
Aqui estou. Sentada há horas. À espera que a ponta da caneta se levante da mesa e caminhe sobre o papel. Espero-a como aquele mendigo que todos os dias se senta nas escadas do metro. Cego. Sem poder imaginar quem traz na mão a moeda que lhe dará de comer.
Por agora sou como ele. Procuro as palavras que se perderam. E sem elas não sei falar.

domingo, 4 de março de 2012

Make it count



O tempo passa por mim. Passa como se não me visse ou conhecesse sequer. Fecho os olhos à noite e de manhã, quando acordo, a realidade mudou. Os meus sonhos, aqueles que conhecia de cor, desfizeram-se. E eu, que sempre soube quem era, deixo de me pertencer.
Tudo porque o tempo veio sem avisar e levou consigo as sensações familiares. Do passado ficam ecos profundos que não sei desvendar. Sombras que fazem as minhas mãos tremer e sussurros que me arrepiam a pele.
E por ti, ele já passou? Já sentiste que o novo dia te ignorava? Que tudo à tua volta era novo, menos tu?
Hoje tudo parece estranhamente distante e perigoso. Até esta caneta que trago entre os dedos. Se lhe volto o olhar, juraria que ganharia corpo para me atacar. Como uma flecha.
Prometeste que o tempo passaria, eu sei. Mas não me avisaste que levaria tudo consigo. Não me disseste que me levaria para longe de mim…
Enquanto escrevo, o tempo continua a passar. Indiferente aos meus desejos. E quando finalmente dou por ele, é tarde. Já não posso apanhá-lo. Por isso, limito-me a aguardar pela chegada da manhã, em que o sono me desperte e os ponteiros do relógio cessem de correr.
Então, talvez consiga acertá-los ao meu ritmo. E possa voltar à hora exacta em que, para mim, o tempo deixou de passar.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Pensando

"How do you dream...
...when you can't fall asleep?"

sábado, 21 de janeiro de 2012

"Life is beatiful but it's complicated"



“Viver exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.”
Um dia li esta frase. Não me lembro quando, nem em que lugar. E, como acontece em certas alturas, aquela frase cativou-me de tal forma que até hoje nunca a esqueci.
Há momentos em que me perguntas como estou e como não consigo medir todo o meu estado físico e mental, respondo: “Estou a respirar”. Como se isso fosse o bastante para me definir naquele momento.
Será que é? Será que basta inspirar profundamente para me sentir melhor, de cada vez que as tempestades ameaçam quebrar-me?
Se respirar é viver, basta que o ar me percorra as veias? Se me deixar inerte neste local; se não me mexer, nem sentir nada, estou viva?
Se desistir de lutar e ficar a ver o tempo materializar-se no tic tac constante do relógio, estarei a dar uso a este dom? A vida.
Perguntas existenciais, dirás. Talvez a resposta esteja precisamente no seu mistério. Talvez a resposta seja não perguntar sequer.
Se não, repara. Observa aquelas crianças que jogam à apanhada na rua. São felizes. E a sua alegria não provém de nenhuma busca interior. Elas deixam simplesmente que cada inspiração seja suficiente para viverem mais um instante e terminarem o jogo.
Essa é a diferença entre estar vivo e não estar: deixar que a vida passe por nós, sem que demos por ela. Porque não é a vida que tem de nos marcar, nós é que temos de deixar uma marca na vida.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Miss u

"Há saudade para sentir...


...como há livros nas prateleiras a fechar mundos."

Jose Luís Peixoto