domingo, 24 de julho de 2011

Silêncio


Hoje o silêncio penetrou-me a pele. Abriu caminho por entre os músculos e calou todos os gritos que ecoavam pelo meu corpo.
Em poucos segundos, tudo em mim se aquietou e tornou mudo. O silêncio que inventara nas folhas atrás, soltou-se do papel e procurou o meu coração. Silenciou os suspiros e apagou as luzes indiscretas. Tudo ficou calmo.
Então, mergulhada numa cortina de sossego que nunca antes me cobrira, ouvi coisas que tinham estado escondidas todo este tempo: um som constante proveniente do meu peito; um tic-tac quase irritante produzido pelo relógio; a aspiração de ar sempre que os meus pulmões pediam oxigénio.
Hoje, quando inspirei profundamente senti que o meu corpo relaxava. Nunca tinha sabido descrever o silêncio. Até hoje. Mas vou guardá-lo para mim. Não poderias compreendê-lo, mesmo que escrevesse páginas e páginas sobre ele. Para o compreenderes, tens de o sentir primeiro.
Podemos fazê-lo juntos. Queres?

terça-feira, 5 de julho de 2011

Pensa comigo


Pensa no início. Sim, na primeira palavra que lhe disseste. O primeiro sorriso que ela te provocou, mesmo quando o tentaste evitar. Pensa na primeira vez que o teu coração se sentiu tocado com algum dos seus sentimentos; ou na primeira vez que tiveste vontade de a apertar nos teus braços.
O início. Tudo tem um começo, a altura exacta em que um novo ciclo começa; uma nova vida nasce dentro da já existente. No início tudo nos parece estranho, nada familiar. Desconfortável, até. Mas depois, pouco a pouco, isso muda.
Lentamente vais conseguindo prever a reacção dela às tuas palavras. Adivinhas os pensamentos que lhe vagueiam na mente quando lhe confidencias os teus segredos. Já não te treme a mão, como quando escrevias a primeira frase do caderno. Agora já sabes a caligrafia que deves usar, e a dimensão de cada capítulo.
A excitação faz-te escrever sem parar. Este é um dos momentos mais emocionantes da história. Respiras sofregamente a imaginar tudo aquilo que ainda está para vir. Parece que vai durar eternamente a nova aventura.
Pensa no fim. Na sensação de aperto na garganta. No excesso de água nos olhos de cada vez que ela te surge no olhar.
Começas a reflectir sobre a forma como tudo deve terminar. Restam-te poucas folhas no caderno, mas algo no peito te suplica que continues a escrever. Agora, as mãos voltam a tremer-te. Não devido ao entusiasmo da descoberta, mas devido ao medo em relação ao que fica por revelar.
O fim. Tudo tem um fim. Mesmo que o prolongues no papel, ele aparecerá a secar-te a tinta da caneta.