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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pensa nisto

"E é como quando pensas que estás a chegar...

...e não deste um passo."

Na boca do mundo, Mesa

domingo, 3 de outubro de 2010

Sensações


Diz-me o que vês. Sim, conta-me com palavras simples aquilo que vês quando olhas à tua volta; aquilo que vês quando olhas à tua volta e eu surjo no caminho.
Sabes que não quero que me descrevas. Quero apenas saber o que te faço sentir. Saber qual é a sensação que te empresto quando o meu perfil se cruza com o teu olhar.
Tal como quando olhas o céu e ele está azul. Não é só isso que vês, desfrutas de um conforto especial, Tal como quando provas algo extremamente doce. Os outros limitam-se a intitulá-lo de isso mesmo, doce, mas tu sentes algo mais, aquela é somente uma palavra inventada para descrever esse paladar.
Consegues dizer-me o que vês? Consegues passar para palavras essas sensações? Finge que nunca antes as vi ou senti. Fala-me como se eu fosse incapaz de as vivenciar.
Quero apenas saber como é para ti. Quero tão-somente conhecer a tua sensação de doce e a tua sensação de mim.

domingo, 29 de agosto de 2010

Distância


Hoje, enquanto caminhava por aquela estrada deserta, houve uma palavra que cortou o silêncio, fugida da melodia que se desdobrava pela minha mente.
Olhei vagamente em meu redor e tentei com força perceber o seu significado ali, naquele preciso contexto.
Distância. Será que estarei distante somente daquilo que se encontra longe? E o que é estar longe? A partir de que ponto te considero perto de mais?
Continuei a caminhar. Para trás ficava um ligeiro sulco no chão, onde se diferenciavam as minhas pegadas. Estava a afastar-me delas, a construir um espaço entre o meu corpo e elas. Mas, e se, no meu pensamento, o meu corpo ali continuasse? Se na minha mente eu não tivesse dado um único passo, será que essa distância se anularia?
Pensei em ti. Não estavas em nenhum dos ângulos do meu olhar. Claro que não. Estás longe, desde o dia em que o caminho nos separou os corpos. Mas e se as almas estiverem próximas, se sentir que me tocas, como se aqui estivesses, onde fica a distância?
Continuo a andar. As minhas pegadas ficam já para lá daquela curva. Já não as posso ver. Estão longe, tal como tu. A elas mal consigo imaginar os traços. O espaço que se prolonga entre o meu corpo e aquela curva foi suficiente para as esquecer. A distância ganhou.
A ti, porém, sinto-te.
Percebo que há coisas que essa palavra não separa. Pergunto-me como é possível que um simples conjunto de letras perfeitamente conjugadas seja capaz de afastar lugares, apertar abraços, roubar, de um instante para outro, aquilo que temos perto.
Mas julgo que o importante não é o espaço físico. O que realmente conta é o abstracto, aquele que só eu tenho o poder de construir. Aquele que me permite estar perto daquilo que fica longe, e fugir daquilo que ameaça tocar-me, mesmo que para os outros, permaneça a quilómetros de distância.

domingo, 16 de maio de 2010

Quase-certeza


O difícil na vida não é termos de fazer escolhas. O que nos corrói por dentro e destabiliza as nossas quase certezas é aprender a viver com elas.
Por mais que queiramos nunca vamos tomar aquela decisão capaz de pôr toda a nossa vida no eixo correcto. Porque, simplesmente, ela não existe.
Hoje acordei com vontade de esquecer tudo aquilo que, penso, tenho vindo a decidir nos últimos anos. Perguntas-me se o fiz, se esqueci… E a resposta é previsível, mas é a única que posso dar-te. Por mais que esse desejo fosse incomportável, nunca conseguiria pô-lo em prática.
Há escolhas que não estão disponíveis na prateleira do futuro.
Pensa assim: é como se caminhasses na floresta, esfomeado por uma qualquer semente que te aliviasse a fome inexplicável que te consumia. E, então, ao afastar um arbusto, encontras rebentos de uma fruta aparentemente deliciosa. O teu instinto será colhê-los de forma a saciares esse desejo por alimento. Mas eles são venenosos. E tu sabe-lo. Se os provares a tua caminhada termina metros à frente.
É assim também com os cruzamentos que nos vão sendo postos à frente ao longo desta caminhada, um pouco mais longa. Às vezes, surge uma estrada larga, repleta de luz, ladeada de um caminho estreito, cheio de pedras e espinhos.
Aprendi a acreditar no segundo. Não que a vida tenha de ser sempre dolorosa e formada por atalhos que custam a ultrapassar. Mas a recompensa é sempre mais doce quando os passos demoram a habituar-se ao trilho. Além disso, por este carreiro nascem flores em redor das pedras e sopra um vento fresco que me seca as gostas de suor no pescoço. E, como há menos pessoas, posso descansar sempre que as pernas vacilam, e ninguém me olha desconfiado quando me deito sobre as ervas a ver o pôr-do-sol.
Sim, certamente os outros chegarão mais cedo. Mas eu chegarei mais rica. Mais forte, mesmo que a minha pele mostre marcas das arranhadelas e o meu corpo pareça mais frágil. É que não é por aparentar mais cansaço que estou mais perto de desistir. Aqueles que nunca iniciaram a caminhada desistiram antes de mim.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Try again


Porque há alturas em que não nos apetece rir, mas apenas sorrir.
Porque, de vez a vez, não suportamos escutar e se torna mais sustentável ouvir somente.
Porque há manhãs em que acordamos e as lágrimas secaram, e só sobra a tristeza.
Porque há momentos em que se consomem as palavras e esta folha fica em branco. Horas a fio, dias até, sem que uma letra se deslinde pelas linhas.
É por tudo isto que amanhã quando saíres à rua e vires aquela criança a correr atrás da borboleta que hoje te passou ao lado vais rir, em vez de esconderes a alegria atrás de um sorriso aborrecido.
É por isto que amanhã irás escutar com atenção as palavras de quem te fala com ternura. Sim, vais emprestar a tua atenção por completo, em vez de fingires que as suas palavras te percorrem o intimo.
E amanhã, quando aquela dor que escondes não couber mais no teu peito, deixarás que espreitem dos teus olhos lágrimas quentes e salgadas. Vais deixar que te aliviem a mente, em vez de te limitares a mostrar essa tez pálida e soturna.
E quando chegares à noite, e a tua lembrança palpitar de vontade por guardar os pensamentos que passeiam pelos seus labirintos, vais pousar a folha de papel branca sobre a mesa. Vais agarrar no lápis de carvão e escrever. Qualquer coisa. Qualquer palavra que te perpasse as ideias.
Ninguém disse que todos os dias te obrigam a encarnar as mesmas emoções e desejos. Ninguém te obrigará a seres feliz a todas as horas. Só tens de te manter vivo. Quando não tiveres força para gritar, sussurra, alguém vai ouvir. Quando não fores capaz de correr, caminha, porque alguém se acalmará para andar a teu lado. E quando o ar te engasgar ao percorrer as tuas veias, abranda e tenta de novo.
E, sempre que a palavra desistir te aflorar o pensamento, apaga-a do teu vocabulário. Afasta-a para longe, a distância que seja suficiente para que ninguém a agarre e a leve consigo.

domingo, 2 de maio de 2010

A sombra



Sufocam-me as tardes sem vento. Apertam-me a garganta estas manhãs sem silêncio e as noites em que as estrelas estão distantes de mais para que os meus olhos as possam ver.
Asfixia-me este ar irrespirável, esta rotina sem horas pelas quais o meu coração possa bater mais forte. Ferem-me a íris as luzes indiscretas que sobressaem por entre as frechas da janela.
Um dia vi-te caminhar assim. Dizias estar vivo, mas para o meu instinto aventureiro parecias um vulto de alguém, uma sombra que se limita a copiar os movimentos de um corpo que respira.
Dizias que não, mas era isso que eras. Mais um clone por entre os tantos que vagueiam pelas ruas. Hoje senti-me assim. Mais uma.
Será que tem de ser assim? Será que temos de seguir os passos dos outros para que o ar nos percorra as veias?
Eu acreditava que não. Acreditava que utilizaria estas mãos para construir sonhos e as palavras para inventar histórias. Daquelas que nunca ninguém contou. Aquelas que ninguém ouviu. Eu acreditava que o oxigénio seria eterno e sempre nos renovaria os pensamentos.
Mas hoje, senti-me sufocar. Dirás que não respirei o suficiente. Dirás que basta que continue a respirar, como sempre. Mas é que hoje, quando o fiz, o ar apertou-me a garganta e acumulou-se no meu peito.
Lembras-te daquele jardim onde te deitaste a tentar adivinhar os desenhos das nuvens que corriam no céu? Lembras-te daquilo que sentiste?
Eu recordo-me que parecias leve. Quase diria que conseguias flutuar. Parecias solto, dono de ti. Livre. Naquela noite, deitaste sobre as dunas na praia e viste as estrelas. Vimo-las juntos. Sabias os seus nomes, as constelações, as galáxias. Naquela noite conseguias vê-las a todas.
E eu não acredito que o céu da noite de hoje tenha mudado. Mas eu não consigo encontrar uma única estrela. E sei porquê. Porque de tarde, limitei-me a olhar as nuvens pela janela, em vez de as ver passar, deitada naquele relvado.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ir



Apetece-me apanhar um comboio sem destino. Um daqueles que partem uma vez na vida, uma única vez.
Depois, sentar-me num dos lugares perdidos no fundo da última carruagem, aquela que é levada por todas as outras, aquela que nos dá a sensação do passar lento do tempo. Encostar-me à janela e pousar a cabeça sobre o vidro. E então, simplesmente não pensar em nada. Deixar que o tempo passe por mim.
Apetece-me sentir isso mesmo. Fechar os olhos e sentir que o mundo se mexe mas eu permaneço igual. Sentir que, por uma vez, não vale a pena. Sentir que nada vai mudar quando eu abrir os olhos, dias depois.
É que era isso que queria... Ir, sem que ninguém notasse ou soubesse.
Talvez bastasse deitar-me e tentar sonhar. Talvez dormir fosse o bastante. Mas não é isso que quero. Não quero adormecer enquanto a vida pulsa ritmadamente. Queria somente fechar os olhos e não a ver passar. Por uns instantes. Uns momentos de descanso, enquanto sei que todos os outros correm para não perder um minuto.
Mas é que, às vezes, seria tão bom poder descansar na margem da estrada, sem que ninguém nos obrigasse a andar. Poder parar para ver tudo com atenção, com os olhos de quem não tem pressa ou compromissos. Viver como um sem-abrigo. Um nómada. Sim, acho que é isso. Às vezes, gostava de ser como eles, como esses que descobrem o mundo, de mochila às costas. Parecem tão felizes...
Não é que não queira a tua companhia. Mas, com o tempo, vamos aprendendo a respeitar a solidão e a cumplicidade que ela nos empresta. Não fomos feitos para estar sós. Mas é impossivel apreciar a proximidade de outro alguém, sem que tenhamos exprimentado a sua ausência.
E eu sinto falta. Sinto falta de ouvir os meus passos. Sozinha. E rodeada do mundo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

You're not alone




Hoje não vamos falar. Não precisas de ter medo. Sossega o teu coração que bate descompassadamente desde que te aproximaste.
Hoje vamos só ficar assim. Juntos. Vamos falar com a voz do pensamento. Encostar as nossas almas e sussurrar baixinho, muito baixo, aquilo que com palavras pesadas iria arrancar-nos lágrimas das quais precisamos.
Prometo não pedir mais que isto. Só quero ouvir esses suspiros. Só quero que os partilhes comigo, para que não te sintas vazio quando expelires todo o ar que te sufoca.
Aproxima-te. Só um pouco. Só até que a tua pele toque a minha e eu consiga sentir o teu arrepio. Só para saber quando as ondas de pesadelos te invadem a memória.
Não digas nada. Não transformes este silêncio em mais uma noite de pesadelos. Aperta a minha mão com força. Deixa-me levá-los, afastar os fantasmas que te preenchem os sonhos e te mantêm preso nesse casulo de dor.
Abre-me o teu coração. Não que seja médica e te cure, de vez, essa dor que comportas e não sabes explicar. Mas deixa-me ver-te, deixa que te acompanhe por esse deserto onde te perdeste. Não prometo encontrar o caminho, mas caminharei a teu lado. Para que, quando sentires demasiado medo, percebas que não estás só. E para que quando sentires vontade de desistir a minha mão agarre a tua e te dê força para continuar.

Tell me how you really feel
Tell me what is on the inside of you
All the somethings you conceal
Only keep away the ones who love you
I know there's nowhere you can hide it
I know the feeling of alone
Trust me and don't keep that on the inside
Soon you'll be locked out on your own
I Know - Jude

sábado, 17 de abril de 2010

Bom dia...



Ela ali estava. Sentada sobre as ervas frescas. Abraçada sobre si mesma. Invisível ao mundo, inerte para com ele. Tal como em todas as manhãs encontrava-se encostada ao grande carvalho que, nesta altura do ano, parecia começar a ganhar folhagem nova.
Para ele, parecia uma miragem, uma visão da sua mente há tanto tempo sozinha. Observava os olhos tristes dela, a sua tez pálida. Conhecia-a sem que nunca ousasse ter-se-lhe revelado. Bastava aquilo. Aqueles segundos de companhia. Bastava tão-somente sentir que lhe era útil e lhe afastava a tristeza.
Naquela manhã, tal como em todas as passadas e aquelas que estariam para vir, ele veio ao seu encontro. Caminhou longos minutos por trilhos sinuosos, enquanto o Sol parecia ainda começar a espreguiçar-se, tímido em clarear a manhã. Caminhara unicamente por saber que ela ali estaria. Para poderem partilhar, em silêncio, aquele ritual que secretamente os unia.
E agora que ali estava faria o mesmo que em todas as manhãs se habituara a reproduzir. Olhava-a, afastado o suficiente para ela não se aperceber da sua presença, mas perto o que bastava para se sentirem. Ela era demasiado ingénua para pertencer àquele mundo cruel; parecia demasiado frágil para o enfrentar.
Então, como em todas as manhãs, ele agachou-se perto da margem do rio que os separava e, sem fazer barulho, lançou uma pequena pedra para a margem onde ela se encontrava. Depois, sorriu, feliz por, mais uma vez, ter feito parte do dia dela, mesmo que em segredo.
Ao sentir algo agitar as ervas que a circundavam, ela ergueu-se a esforço e pegou na pedra. Amarrado à sua volta, um pequeno papel amachucado desdobrou-se com o toque leve dos seus dedos. Mal aquelas letras se reflectiram nos seus olhos, ela descontraiu o rosto triste e pareceu sorrir.
A missão dele estava cumprida. E, enquanto todos os outros pediam o mundo, ele só precisava daquele momento para se sentir bem. Tal como ela que ali ia todas as manhãs numa suplica por aquelas duas palavras ternas. E, apesar de não saber a quem responder, reproduzia-as no seu pensamento àquele alguém que a escutava – Bom dia...
Não precisavam de mais nada. Cumprimentavam-se sem a que a voz se perpetuasse no espaço. Conheciam-se e, no entanto, eram meramente dois estranhos que se viam reflectidos no espelho da água quando o reflexo do outro se aproximava da margem oposta.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Hold on

Friendship isn't how you forget, but how you forgive.
Not how you listen, but how you understand.
Not how you see, but how you feel.
Not how you let go, but how you hold on!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Shiu...




Senti o vento fazer-me festas no pescoço. Todos já o sentimos. Alguma vez na vida, nem que por um momento. Todos já fechámos os olhos e desejámos que aquele vento que nos assobia ao ouvido tivesse força para nos levar com ele. A força que não temos dentro de nós.
Encostei-me ao de leve sobre o seu ombro. Falei-lhe, com a voz do pensamento, sobre as tempestades de medos que me impediam de abrir os olhos, e o ver. E ele passou por mim lentamente. Primeiro tocou-me as costas, percorrendo o meu corpo num arrepio. Soprando ao sabor dos segundos, beijou-me o pescoço com os lábios suaves. Depois, soltou o meu cabelo no ar, para que se misturasse com ele e saboreasse a liberdade,
Envolveu-me no seu colo, abraçou-me e depois partiu. Levava com ele o perfume da terra e o paladar dos sonhos.
Senti-o como se pela primeira vez. E, quando se desfez no ar, soltou-se dos meus olhos uma lágrima.
Para todos os outros era o reflexo do vento frio contra a minha íris. Mas o que ela chorava era a despedida da sua última oportunidade de descobrir, também, aquilo a que sabe ser livre.

domingo, 7 de março de 2010

Efemeridade




Efémero
Há algum tempo que pensava nesta palavra. Sabia aquilo que significava, sabia o motivo pelo qual a descobrira. Ensinaste-me a olhar o mundo assim, mostraste-me que a eternidade é longa de mais para ser planeada, abstracta de mais para ser real.
Aprendi, com o tempo, que aquele eternamente que as minhas palavras escreviam, folhas atrás, não é um tesouro, mas uma caixa antiga, coberta de pó, que os meus braços não devem segurar por mais tempo. A eternidade pesa de mais para a levar comigo nesta viagem. É grande de mais. Esconde-me o caminho. Obriga-me a parar para a pousar e recuperar o fôlego.
Sim, deixei-a lá atrás. Mesmo antes daquela curva onde me falaste da beleza daquilo que é efémero, onde descobri que esta nova caixinha é bem mais leve e fácil de guardar no bolso.
Abri hoje um pequeno dicionário e procurei pelo seu significado. Queria saber, ao certo, aquilo que protegia agora a minha visão do futuro, mas percebi que o que conta não é aquilo que os outros escreveram sobre ela. O que interessa, isso sim, é o que eu posso delinear nesta folha a seu respeito. E tinhas razão. Por mais doce que seja a eternidade, sabe melhor caminhar e perscrutar o passar do tempo.
É mais simples agora, quando aquela flor que colhi murcha. É mais simples quando a noite chega e o sol desaparece. Os meus olhos já não se avermelham, estão preparados para esse ciclo.
E, eu sei que, apesar desta efemeridade, há um ciclo que se repete. A flor que encontrarei amanhã não será a mesma que me havias oferecido, mas será igualmente perfumada e crescerá da terra. E, mesmo quando o teu vulto tiver ficado numa qualquer outra curva do caminho, longe de mais para ser avistado do lugar onde estou, eu sei que estará perto o que baste para me ajudar a colher as novas flores que surgirem pela estrada.
Passei a acreditar na eternidade daquilo que é efémero. Se não, repara: o nosso abraço prolongou-se por breves segundos, mas permanece intemporal na minha lembrança…

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Isto...


Sinto falta de caminhar pela manhã; de ver o Sol nascer, enquanto os primeiros raios me aquecem a pele fria pela brisa matinal...
Tenho saudades desse silêncio, saudades de conseguir ouvir os meus passos. Saudades de me sentir pequena perante o mundo, e não perante as pessoas...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

I just want you, to know who I am...




Há alturas em que a vida nos obriga a uma reflexão. Alturas em que, por mais que queiramos, o sol já não parece brilhar da mesma forma, e a lua estranhamente parece sozinha no escuro da noite. Mesmo que para todos os outros estejam milhares de estrelas em seu redor.
Há alturas em que os caminhos não se cruzam e a estrada parece monótona, em linha recta, rumo a um horizonte que nem se vislumbra. Alturas em que dos dois lados do olhar, não surge uma luz, nem uma pista daquilo que é certo ou é errado.
Há momentos em que a chuva cai incessantemente. Em que não surge um único abrigo de baixo da copa de uma árvore e a água nos lava o corpo e a alma, inundando-nos até o coração. Alturas em que nos apetece que essa chuva nos arraste pelo caminho com as folhas secas, para não custar tanto caminhar.
Há alturas em que as palavras perdem os traços, a fala perde a voz e os dedos se tornam hirtos, incapazes de pegar na caneta e deixar um rasto de tinta pelo papel.
Há momentos em que olho para ti e não encontro os teus olhos. Em que o teu corpo toca o meu, mas sou incapaz de sentir a tua pele. Momentos em que sou incapaz de sentir a minha...
E, mesmo nessas alturas, mesmo quando fecho os olhos para adormecer num pesadelo menos doloroso que este em que me vês de olhos abertos, sinto que continua a valer a pena. Continua a valer a pena esperar que o sol brilhe como dantes, que as estrelas renasçam, que a estrada se cruze com a tua, as palavras ganhem significado e os teus olhos mantenham os meus abertos.
Acho verdadeiramente que sim....

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

It's so easy to please...



Era quase noite. Mas o sol ainda pautava a paisagem talvez querendo aquecer as suas peles que gelavam já cientes da solidão do dia seguinte.
Olhavam, abraçados, a cidade à sua frente. Olhavam-na pela última vez. Olhavam-na como se fosse a primeira. Os dedos dela entrelaçavam-se nos da mão enrugada dele e desse toque provinha o único calor daquele anoitecer de Inverno. Dos lábios dele soavam, de vez a vez, palavras que se perdiam no barulho da cidade mas que antes vagueavam pelos ouvidos dela e se acostavam ao seu coração que sentia parar. No resto do tempo era o silêncio das vozes que permanecia, um silêncio de que ambos precisavam e que sempre pautara as suas vidas.
Os cabelos dela eram lisos e esvoaçavam nas suas costas com o vento gélido da invernia. Nenhum deles se mexia, nenhum deles parecia capaz de tocar aquele momento de partilha que sabiam marcaria as suas memórias.
A cidade vivia intensamente. Os carros feriam-nos com luzes indiscretas, as pessoas passavam com olhares perscrutadores, com passos ansiosos. Era estranho olhar aquela cidade naquele anoitecer. Era estranho saber que amanhã não se teriam um ao outro para a enfrentar.
Sentindo adivinhar o seu medo, ele abraçou-a mais forte contra si, arrepiando-lhe a pele. O corpo dela tremia de um frio que ele sabia nunca poderia afastar. Mesmo assim permanecia a seu lado, agarrando a sua mão, dando-lhe a protecção que o mundo lhe roubara.
Sabiam que a hora se aproximava. Naquela noite, naquela que seria a última oportunidade de se olharem e à cidade, de tocarem dentro um do outro, o toque foi subtil e o silêncio tatuou nos seus corpos um laço que nenhum Inverno poderia rasgar.
Naquela que sabiam ser a última noite, enquanto tudo em seu redor prometia ficar igual, usaram o último minuto para inspirar profundamente o frio do ar nocturno. Encostados no peito um do outro perdoaram a distância que ali começava, esperaram o pedido para ficar que nenhum tinha coragem de fazer

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

What do I know?




Eu sei. Sei que nem tudo será assim. Sei que as folhas deste livro estão por folhear, que são impossíveis de ler, por enquanto.
Eu sei. Sei que nem sempre o ar custará a inspirar, que por momentos ele percorrerá as nossas veias sem esforço e que o sufoco parecerá ter desaparecido.
Sim, eu sei que noutras alturas, outras folhas deste livro parecerão ainda mais sumidas, que a história se mostrará sem sentido. Eu sei…
Sei que um dia a criança que hoje brincava no comboio será uma mulher; sei que essa mulher nunca se recordará do meu sorriso ao vê-la hoje desfrutar da inocência da vida. Mas, por outro lado, eu ficarei com essa flash eternamente, a sua ingenuidade marcou o meu olhar ferido pela crueldade da verdade…a falta de inocência.
Eu sei que será sempre assim. Sei que as lágrimas nunca valerão realmente a pena e o desespero não trará conforto. Sei que os sorrisos marcarão um instante volátil, que serão causa de saudade no futuro.
Sei disso, e tanto mais…Mas mesmo assim, mesmo tendo consciência de que muito daquilo que passa por mim nesta longa caminhada ficará para trás, que muitas das pessoas que reflectiram o meu olhar não se lembrarão dele nos momentos de nostalgia, eu sei que ainda não chegou o momento de descansar à beira da estrada. Sei que devo andar um pouco mais.
Sabes porquê? Porque tenho a vaga sensação de que lá à frente, nesse destino que por agora o nevoeiro me impede de vislumbrar, o que era certo hoje será o desconhecido, e aquilo que julgava impossível tornar-se-á realidade.
Não perguntes o que me leva… A única coisa que te posso segredar é que… eu sei.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Just keep breathing




Senta-te aqui. Deixa o teu corpo relaxar, deixa-o descansar da caminhada.
Senta-te ao meu lado. Não precisas de olhar para mim, não precisas de sequer falar-me. Deixa-te, por um momento, levar pelo bailado do vento; deixa que aquilo que te atormenta viaje por esse labirinto de dúvidas que é o horizonte.
Fecha os olhos. Não precisas de mais imagens que te preencham o olhar de angústia, não precisas de mais luz que te fira o vazio da introspecção.
Não, não penses em nada, por favor…Deixa que por este simples instante, estes segundos em que partilhamos em silêncio os nossos medos, a tua mente se abstenha desse esforço. Sei que és capaz, tenta pelo menos…
Sinto o arrepio na tua pele, sinto que tremes com o meu toque. Acalma-te, é apenas a minha mão que busca entrelaçar-se na tua, que tenta dar-te aquilo que perdeste – a sensação aconchegante de um lar.
Olha agora nos meus olhos. Vejo que os teus não encontram os meus, que procuram algo num lugar que não conheces ou sabes como encontrar. Tem calma... Posso não percorrer o mesmo caminho que os teus passos cansados tatuam, mas da minha estrada vejo a tua.
Não, não penses em desistir. Não permitas que o mundo em que te perdeste te proíba de encontrares o trilho. Deixa-me dar-te a mão, deixa-me dar-te força para a próxima inspiração.
A noite cai à nossa frente. Pousa a cabeça sobre o meu ombro e contempla a sua calma. Vê como tudo sossega. Sente a tranquilidade que a vida te pode dar.
Ouço-te respirar profundamente. Sinto o esforço que o teu peito executa para que o ar o percorra, sinto que vacilas. Mas não desistas... Não agora, que a noite cai. Percorre com esse olhar cristalino os milhares de estrelas no céu. Também elas aguentaram todo o dia, também elas perderam o brilho enquanto o sol vivia. Não deixes que o teu cesse por mais esta noite.
Podes ficar aqui. Descansa ao meu lado enquanto o medo te impede de o enfrentar. Mas, enquanto o mundo te assusta, não desistas de tentar. E, se não consegues lutar contra ele, just keep breathing…

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Talvez...


Sim, talvez um dia seja capaz. Talvez um dia esta mão frágil e tantas vezes trémula o consiga. Por agora, estas palavras bastam.
Talvez, um dia, as manhãs cinzentas se dissolvam numa chuva doce que me aqueça a pele. Talvez, um dia, possas saboreá-la comigo.
É tudo tão incerto não é? Tudo tão volátil como aquela folha seca que se soltou da copa daquela árvore, esta manhã.
Talvez, um dia, a árvore não exista sequer, e o vento, aquele que nos emaranhou o cabelo, não tenha o que embalar. Sim, talvez tenhas razão, e valha a pena senti-lo agora, deixá-lo penetrar-nos a alma.
Talvez, quem sabe, o sol deixe de nos aquecer a pele gelada e a noite nos preencha a íris do olhar num suceder de horas sem manhã. Talvez esta seja a última oportunidade para deixarmos os nossos lábios fluírem num sorriso meigo com o pôr-do-sol.
Certeza? Não, não tenho… Como sempre, falta-me a confirmação. Mas, no fundo, a dúvida é muito mais forte, mais capaz de nos dar vida. Senão, pensa comigo… Se tiveres a certeza de que o céu estará azul amanhã, de que valerá encostares o olhar à janela, ao acordar? Se tiveres a certeza de que irei ao teu encontro, como poderás sorrir-me, daquela maneira, ao olhar para mim?
Por isso, sim, talvez amanhã o sol brilhe, talvez nos cruzemos. E esta dúvida chega para fechar os olhos e dormir, esta noite. Amanhã talvez acorde sorridente…talvez.
Talvez amanhã tudo mude e tenha chegado finalmente aquele dia. Ou então, talvez tudo fique como está. Prefiro não ter certezas, porque assim, se amanhã não vieres ao meu encontro não terei esperado em vão…
Escrito ao som de The Portrait - James Horner

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dream




"Não é que não queira nada do mundo, mas quando estamos sós sentimos melhor o imbativel prazer das formas belas"
Pedro Paixão

Não é solidão. É introspecção. É precisar de um bocadinho longe do mundo. É querer simplesmente que as horas parem e nos ajudem a preparar a próxima inspiração.
Não é egoísmo. É só querermos roubar o mundo um bocadinho para nós, querermos que ele nos ouça e pense connosco.
Não, não é tristeza....É o desejo de um nada. O desejo de sussurrar as vozes que nos interpelam no caminho, sem que as conheçamos. O desejo de podermos ser só nós, por um mero instante... curto, tão curto quanto o é fechar os olhos.
Não é que os outros estejam errados, nem que nós estejamos certos. É só um desejo de não os ouvir, de poder mudar o rumo do caminho....De, mesmo estando a errar, tentar começar de novo.
É só a vontade dilacerante de, por uma vez na vida, ouvir os gritos que o coração cala, dia após dia, para não doer mais.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Perdoa-me...


Quantas vezes já a ouviste? Quantas vezes já te tentaram roubar o coração e pintar-te cristais na íris do teu olhar com essa palavra?
Não te recordas… Descansa, não é grave. Encontrei muitos mais como tu.
Mas diz-me, quantas vezes a disseste? Quantas vezes a deixaste deslizar-te pela língua, mesmo em frente daquele que sentia culpa?
Não sabes… Desta vez, não posso sossegar-te.
Querias um perdão, esperas consegui-lo sem que o tivesses consentido, sem que tivesses cosido com a linha fina do arrependimento os rasgos das tuas falhas.
Deixa-me sussurrar-te algo ao ouvido: isso não é correcto. Sim, não te julgues perfeito, intocável. Também erraste, também fizeste outros chorar, além dos sorrisos que ensinaste; também provocaste feridas para lá daquelas que ajudaste a curar; também faltou em ti aquela palavra meiga e doce, aquela que a tua memória não encontra aí dentro.
Não, ninguém mo confessou, ninguém te caricaturou como um monstro cruel…sossega. Mas eu sei. Eu sei que falhaste. Sei-o, porque simplesmente seria impossível seres perfeito – como o somos, todos – sem imperfeições; porque se nunca tivesses errado não existiriam cicatrizes da vida em ti e, sim, serias invisível, vazio.
Levanta o olhar. Olha para mim, para o mundo que, como vês, é imperfeito mas nos permite olhar um para o outro. E não penses que nunca mais vais falhar. Pensa antes em como tapar as armadilhas que espalhas sem querer.
Pensa em como dizer essa palavra. Podes não ser capaz agora, compreendo. Mas, quem esperou por te ouvir, saberá reconhecer a demora.
E, acredita em mim, eles saberão…Perdoar.