sábado, 12 de setembro de 2009

O cheiro do Teatro - "Piaf"

O burburinho na sala faz-nos cócegas nos ouvidos. Mal se distinguem as vozes ou até mesmo as idades dos que nos rodeiam. Há sempre aquele entusiasmo antes do início.
As luzes são ainda intensas em volta de todo o espaço, só daqui a uns minutos os projectores no palco ganharão vida silenciando toda a plateia e deixando-a em escuridão.
Silêncio.
E então, de repente, rompendo do fundo do palco surge a por todos aguardada Édith Piaf. A sua voz preenche a sala, que entretanto se tornou pequena perante a sua figura magra mas emersa em prestígio.
Estamos no Teatro Politéama. E não, infelizmente, Piaf não ressurgiu das cinzas para uma última apresentação, é Sónia Lisboa quem se nos revela, vestindo o papel da grande cantora francesa – e mesmo, melhor de todos os tempos.
Como já seria de esperar para quem segue de perto os passos do grande Filipe Lá Féria – ou surpreendendo-se quem não tem esse costume – é-nos apresentada uma biografia viva da diva, uma oportunidade única, diria, de perscrutar, como um fã sem coragem de se aproximar do ídolo, toda a vida, trabalhos, concertos, amores – e foram tantos! – E desilusões desta intérprete de clássicos como “La vie en rose”.
Um elenco pequeno mas absolutamente talentoso, um guarda-roupa alusivo aos conturbados anos quarenta, acompanhados de perto pela segunda Grande Guerra, mas sempre envoltos no crescimento, ascensão e, mais tarde, declínio de Piaf.
Noémia Costa desliza pelo palco com mestria trazendo ao de cima a companheira de rua, a única amiga que nunca abandonou a protagonista. Certamente uma das grandes presenças em cena.
Um cenário simples, quase inexistente, contribui para o crescente intimismo da peça, revelador dos sentimentos profundos da cantora.
O espectáculo é findo ainda antes de completas as duas horas em cena. O público ganha de novo papel activo na plateia. De pé, absorvido ainda pelas vozes magníficas dos actores aplaude por longos minutos, de mãos levantadas no ar num gesto simbólico de agradecimento.
É por isto que vale a pena ir ao teatro: sente-se o cheiro da madeira do palco, o timbre das vozes, o reflexo das reacções nos quantos partilham a experiência connosco. No fundo, sentimos que fazemos parte do espectáculo.

Deixo-vos uma pequena amostra. Espero que desperte a curiosidade :)
http://www.youtube.com/watch?v=wsZIDXrA_aQ

2 comentários:

Ricardo disse...

Parece-me muito bem! Pelo menos o texto está muito bem escrito! A ver se vamos uma dia ao teatro...

Sofia N. disse...

Conseguiste que eu tivesse muita vontade de ir ver a peça =)
só gostava era de também ter uns bilhetinhos à borla eheh!

Beijinhos