quarta-feira, 7 de abril de 2010

I always try to not remember rather than forget




Sempre ouvi dizer que o vento é capaz de transportar sementes de países distantes, por quilometros. Que as deixa cair sobre a terra num qualquer outro lugar do planeta e aí faz renascer uma vida.
Não sei se é verdade. Mas descobri que essa mesma brisa, esse elemento que não se pode ver mas que somos capazes de sentir como poucos outros, transporta algo bem mais pesado, embora igualmente intocável. O vento embala memórias que desejámos esquecer naquele momento de angústia.
Sim, sabes do que falo. Também tu te sentaste em frente ao mar e suplicaste que a brisa gelada que te arrancava gotas salgadas do olhar levasse com ela aquela dor que não conseguias guardar aí dentro.
Eu sei. Também o fiz, em segredo. Baixo o suficiente para que o meu coração não ouvisse e as retivesse por mais tempo.
Supliquei-lhe e ele assim fez. Acostou-se ao meu corpo e, enquanto uma onda rebentava contra as rochas, tomou os meus pensamentos e deixou o meu espírito em sossego.
Jurei ter esquecido, naquela tarde. Por instantes tive a certeza de que as memórias que causavam feridas tinham desaparecido de vez. Fui até capaz de sorrir, imagina… Como que, se por meramente não me lembrar, tivesse esquecido.
Hoje voltei a esse lugar. Agachei-me perto das rochas e senti a mente vazia, como desde esse dia em que entregara a alma ao vento do fim do dia. Arrastada por uma onda violenta, senti uma nova brisa chegar-se a mim. E, enquanto de olhos fechados a deixei serpentear pela minha pele, senti que o meu pensamento se voltava a preencher.
É que às vezes para esquecer o passado é apenas preciso saber não lembrá-lo. Porque mesmo que o entreguemos ao vento, ele permanece vivo, a esvoaçar pelos nossos cabelos nas tardes de tempestade.

1 comentário:

Ricardo Pinto disse...

Andamos a frequentar os mesmo sítios :).

Uma vez alguém me disse que não devemos fugir dos problemas porque eles vêm ter connosco. Este post fez-me lembrar isso...