domingo, 19 de setembro de 2010

Como salvar um coração partido


Lay me Down e Susan Richards nunca se tinham visto, mas, sem saberem, partilhavam um passado semelhante. A primeira, uma égua doente, vivera acostumada a maus tratos por parte dos que diariamente apostavam o seu galope em corridas. A segunda, uma mulher independente, que há muito se afastara de relações afectuosas, fechava-se numa personalidade solitária na qual os cavalos eram o seu único refúgio e segurança.

"Eu não sabia que dizer, como explicar o tamanho da minha dor. Parecia-me uma coisa demasiado particular, algo que só poderia contar ao meu irmão, uma pessoa que passara pelo mesmo que eu. Não sabia se mais alguém conseguiria compreender o que eu sentia. A minha vergonha não era racional, mas existia (...)" P. 177-178

Susan – a autora e, ao mesmo tempo, protagonista – fala-nos na primeira pessoa com um discurso simples mas marcado por uma grande carga emocional. À medida que vão sendo desvendados pormenores sobre a sua infância, Lay me Down surge como uma analogia da protagonista. O medo de perder aquela companheira transforma-se numa igual vontade de agarrar a vida de que há tanto se esquecera.

"Lay me Down dera-me o sentido de família (...) Tinhamo-nos uma à outra na minha herdade e conseguiriamos, pela primeira vez, libertar-nos dos nossos medos." P.178

A dependência do álcool é um elemento central na vida de Susan: primeiro representado pelo seu pai; depois pelos avós; e, mais tarde, pelo seu marido. E quando achava que o pesadelo a tinha finalmente abandonado, o passado volta, mergulhando-a a si também num ciclo vicioso que acabaria numa reunião dos Alcoólicos Anónimos.
Com Lay me Down esta mulher fria, que nunca ultrapassara a morte precoce da sua mãe com leucemia, descobre que o seu oração ainda é capaz de amar. Mais que isso, aquela égua doente ensina-lhe que é possível recuperar a confiança nas outras pessoas.
Um testemunho tocante sobre os laços que unem humanos e animais e sobre a forma como estes podem afastar traumas que nenhuma outra pessoa imagina escondermos dentro de nós.

"Mais tarde não me conseguia lembrar da reunião (...) mas a verdadeira surpresa foi que deixei de beber. Não por causa dos AA, mas porque, depois de uma noite sem beber, queria ver se conseguia duas, depois três e assim por diante. Era um jogo, como aprender a suster a respiração debaixo de água (...) Subitamente somos capazes de fazer uma piscina inteira sem respirar e pensamos que é espantoso até quebrarmos o nosso próprio recorde ao fazermos duas. (...) No entanto, só me pareceu um jogo nas primeiras semanas. O vazio da minha vida, criado pela falta de bebida, era maior do que tudo o que eu experimentara." P. 76

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