domingo, 29 de abril de 2012

Entre as manhãs que sofremos


"Entre as manhãs que sofremos, entre as esperas de tudo o que não nos quis, havia uma esperança pequena. Não sabíamos que a chuva é um olhar desesperado. Não sabíamos que o frio. Entre as manhãs que sofremos, uma lágrima. E uma lágrima é morrer tão completamente. Éramos as crianças e a água. éramos as árvores. As folhas das árvores, uma aragem, os pássaros a voarem na nossa respiração. Éramos as manhãs e nós a sofrê-las, éramos uma pequena esperança. Não sabíamos que não se pode acreditar, nem sofrer, nem ser criança e água. Havia uma esperança pequena. Procurámos tudo o que não nos quis. Esperámos. Entre as manhãs que sofremos. Entre a chuva, o frio, as árvores, os pássaros. Éramos a terra triste. Éramos uma aragem. Não sabíamos que uma lágrima. Não sabíamos que a imensidão da morte é maior que uma esperança pequena."
José Luís Peixto, A Criança em Ruínas

1 comentário:

Mário Monteiro disse...

sempre com boas escolhas =)