"Entre as manhãs que sofremos, entre as esperas de tudo o que
não nos quis, havia uma esperança pequena. Não sabíamos que a chuva é um olhar
desesperado. Não sabíamos que o frio. Entre as manhãs que sofremos, uma
lágrima. E uma lágrima é morrer tão completamente. Éramos as crianças e a água.
éramos as árvores. As folhas das árvores, uma aragem, os pássaros a voarem na
nossa respiração. Éramos as manhãs e nós a sofrê-las, éramos uma pequena
esperança. Não sabíamos que não se pode acreditar, nem sofrer, nem ser criança
e água. Havia uma esperança pequena. Procurámos tudo o que não nos quis.
Esperámos. Entre as manhãs que sofremos. Entre a chuva, o frio, as árvores, os
pássaros. Éramos a terra triste. Éramos uma aragem. Não sabíamos que uma
lágrima. Não sabíamos que a imensidão da morte é maior que uma esperança
pequena."
José Luís Peixto, A Criança em Ruínas
1 comentário:
sempre com boas escolhas =)
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