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domingo, 16 de maio de 2010

Quase-certeza


O difícil na vida não é termos de fazer escolhas. O que nos corrói por dentro e destabiliza as nossas quase certezas é aprender a viver com elas.
Por mais que queiramos nunca vamos tomar aquela decisão capaz de pôr toda a nossa vida no eixo correcto. Porque, simplesmente, ela não existe.
Hoje acordei com vontade de esquecer tudo aquilo que, penso, tenho vindo a decidir nos últimos anos. Perguntas-me se o fiz, se esqueci… E a resposta é previsível, mas é a única que posso dar-te. Por mais que esse desejo fosse incomportável, nunca conseguiria pô-lo em prática.
Há escolhas que não estão disponíveis na prateleira do futuro.
Pensa assim: é como se caminhasses na floresta, esfomeado por uma qualquer semente que te aliviasse a fome inexplicável que te consumia. E, então, ao afastar um arbusto, encontras rebentos de uma fruta aparentemente deliciosa. O teu instinto será colhê-los de forma a saciares esse desejo por alimento. Mas eles são venenosos. E tu sabe-lo. Se os provares a tua caminhada termina metros à frente.
É assim também com os cruzamentos que nos vão sendo postos à frente ao longo desta caminhada, um pouco mais longa. Às vezes, surge uma estrada larga, repleta de luz, ladeada de um caminho estreito, cheio de pedras e espinhos.
Aprendi a acreditar no segundo. Não que a vida tenha de ser sempre dolorosa e formada por atalhos que custam a ultrapassar. Mas a recompensa é sempre mais doce quando os passos demoram a habituar-se ao trilho. Além disso, por este carreiro nascem flores em redor das pedras e sopra um vento fresco que me seca as gostas de suor no pescoço. E, como há menos pessoas, posso descansar sempre que as pernas vacilam, e ninguém me olha desconfiado quando me deito sobre as ervas a ver o pôr-do-sol.
Sim, certamente os outros chegarão mais cedo. Mas eu chegarei mais rica. Mais forte, mesmo que a minha pele mostre marcas das arranhadelas e o meu corpo pareça mais frágil. É que não é por aparentar mais cansaço que estou mais perto de desistir. Aqueles que nunca iniciaram a caminhada desistiram antes de mim.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Try again


Porque há alturas em que não nos apetece rir, mas apenas sorrir.
Porque, de vez a vez, não suportamos escutar e se torna mais sustentável ouvir somente.
Porque há manhãs em que acordamos e as lágrimas secaram, e só sobra a tristeza.
Porque há momentos em que se consomem as palavras e esta folha fica em branco. Horas a fio, dias até, sem que uma letra se deslinde pelas linhas.
É por tudo isto que amanhã quando saíres à rua e vires aquela criança a correr atrás da borboleta que hoje te passou ao lado vais rir, em vez de esconderes a alegria atrás de um sorriso aborrecido.
É por isto que amanhã irás escutar com atenção as palavras de quem te fala com ternura. Sim, vais emprestar a tua atenção por completo, em vez de fingires que as suas palavras te percorrem o intimo.
E amanhã, quando aquela dor que escondes não couber mais no teu peito, deixarás que espreitem dos teus olhos lágrimas quentes e salgadas. Vais deixar que te aliviem a mente, em vez de te limitares a mostrar essa tez pálida e soturna.
E quando chegares à noite, e a tua lembrança palpitar de vontade por guardar os pensamentos que passeiam pelos seus labirintos, vais pousar a folha de papel branca sobre a mesa. Vais agarrar no lápis de carvão e escrever. Qualquer coisa. Qualquer palavra que te perpasse as ideias.
Ninguém disse que todos os dias te obrigam a encarnar as mesmas emoções e desejos. Ninguém te obrigará a seres feliz a todas as horas. Só tens de te manter vivo. Quando não tiveres força para gritar, sussurra, alguém vai ouvir. Quando não fores capaz de correr, caminha, porque alguém se acalmará para andar a teu lado. E quando o ar te engasgar ao percorrer as tuas veias, abranda e tenta de novo.
E, sempre que a palavra desistir te aflorar o pensamento, apaga-a do teu vocabulário. Afasta-a para longe, a distância que seja suficiente para que ninguém a agarre e a leve consigo.