sábado, 11 de setembro de 2010

Quando chegares, saberás


“Quando chegares, saberás”. Fora o que ela lhe dissera. Faltara só explicar como teria essa certeza. Como saberia que aquele era o lugar, aquela a altura certa.
Ela mostrara-lhe como nunca perder o rumo, como recuperar o calor quando o frio se tornasse rachante e como refrescar a pele quando o calor lhe apertasse o corpo.
Lembrava-se de todas essas palavras, de todos os conselhos que havia acrescentado à sua mochila que, no entanto, permanecera leve. Ela não contivera nenhum sentimento: não escondera a tristeza por vê-lo partir, nem a necessidade de sabê-lo bem sucedido. Planeara consigo todos os pormenores. Juntos haviam traçado a rota que agora os seus pés cumpriam. Tinham projectado aquele caminho como se ambos o fossem desbravar, inventando as melhores formas de vencer os obstáculos e marcando no mapa os locais onde seria melhor descansar.
Ela fora – e, estranhamente continuava a ser – a sua companheira. Desde o início.
Mas, agora, quando sentia um sorriso nascer nos seus lábios por tudo o que corria bem, ou quando o desespero o atormentava ao sentir-se perdido, ela não estava presente. O caminho que, na sua presença, parecera simples tornava-se dissimulado. E, quando se esforçava por recordar as palavras que ela deixara para esses momentos, tinha a sensação de não restar nenhuma. Talvez porque ela pensara realmente partir com ele. Ou, talvez, porque ele tinha mantido a esperança de que ela viria.
Ajeitou a mochila e olhou o céu. Estava azul, exageradamente para aquela altura do ano. Soprava um vento forte que o ajudava a manter-se em andamento, empurrando as suas costas.
Naquela solidão, rodeado unicamente por aquele ambiente desconhecido, era fácil questionar o que o mantinha na estrada. Mas aquelas palavras voltavam sempre nessas alturas. Ressuscitavam de cada vez que o simples caminhar não era razão suficiente. E então, ele respirava profundamente e continuava, porque algo dentro de si lhe dizia que ainda não tinha chegado – e ela, onde quer que estivesse, sabia-o também.

2 comentários:

Samuel F. Pimenta disse...

Duas solidões marcadas pela certeza de que um e outro tinham um alguém para recordar. Um texto belíssimo, de uma expressividade notável.

Tudo de bom,

Samuel Pimenta.

João Carloto disse...

o texto parece falar sobre duas pessoas solitárias que se recodam mutuamente. pelo menos esta é a minha interpretação. parabéns pelo texto, além de bem escrito é lindo e sente-se nele o sentimento. gdt ;)