sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Medo


Medo.
Sim, às vezes eu tenho medo. Não o digo a ninguém. Fiz desse, um dos meus segredos. Daqueles que não partilho, nem mesmo com o reflexo do espelho, receosa da lágrima que pode surgir do outro lado do vidro.
Perguntas-me porque escrevo. E eu respondo-te que o faço para afastar esse medo que ninguém conhece mas existe. Não sei explicar-te como, mas as palavras que fluem dos meus dedos levam consigo, agarrado aos seus contornos, o medo que, de outra forma, viveria só em mim.
Quando desenho um ponto final ou o prolongo numa vírgula os monstros dos pesadelos surgem mais distantes. Não lhes vejo o rosto assustador. Suponho que se enchem de mochilas pesadas e fogem para longe.
Perguntas-me se sinto medo agora. Respondo-te que sim. Não é que desta vez as palavras tenham deixado de funcionar. Mas é que quando os receios nos preenchem, não basta fazê-los partir, é preciso encontrar uma razão para eles não voltarem.

2 comentários:

Mário Monteiro disse...

é enfrentando-os que eles não voltam, como um menino mau da escola que sempre nos persegue.

Samuel F. Pimenta disse...

"Quando os receios nos preenchem, não basta fazê-los partir, é preciso encontrar uma razão para eles não voltarem"

Não me lembro se alguma vez te disse nos tantos comentários que já te fiz, mas dada a minha ausência, mesmo que já to tenha dito, digo-to novamente: a tua escrita, de tão autêntica, quase que se materializa numa pedra preciosa que, tendo-a como minha, jamais a largaria. És sábia, conheces as palavras. São poucos os que, como tu, sabem e sabem que sabem. Que eu possa sempre continuar a ter o privilégio de ler-te!