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domingo, 19 de julho de 2009

Tatuar pegadas


Diz-me do que foges.
Do que tens medo, afinal?
Diz-me como te acalmar, como adormecer o pesadelo que te mantém acordado.
Suspiras em desespero. Pedes ajuda num grito mudo para que ninguém corra para ti. Porquê. Era o que esperavas que perguntasse. Mas não o farei.
Diz-me quem te prendeu nessa gaiola de insegurança. Conta-me porque perdeste as forças para a saltar.
Corres. Buscas fora de ti algo que te pertence. Algo que nenhum outro te poderá dar.
Pareces tão frágil mas guardas um grito que juraria não poder existir.
Olhas inerte o horizonte. Olha-lo como se o respirasses. É para lá que corres? Onde fica esse lugar? Sabes?
Vais dizer-me?
No dia em que a tua pegada ficar marcada na areia, como se o mar acalmasse e as ondas não mais varressem os nossos passos, dizes-me?
Ou vais cumprir esse juramento? Vais ser fiel à brisa que te trouxe e que me fizeste saber um dia te tornaria a levar…
Eu sei que choras para lá desse sorriso. Sei que gritas no silêncio desenhado pelas palavras fingidas.
Nas noites de trovoada escondes-te a um canto e procuras as estrelas. Tens medo. Mas sabes que ninguém te estenderá a mão, nessas noites.
Não queres sair à rua neste dia de sol? Porque preferes correr quando a chuva te lava a pele?
Não preferias respirar a brisa fresca em detrimento da poeira do teu castelo abandonado nas dunas?
Pintaste nas paredes a solidão em que te deixaram. Pensaste que ninguém a leria. Pensaste que não teria coragem de lá entrar.
Mas também eu sentia medo na noite de tempestade e dei esses passos. Procurei-te mas tu escondias-te tão profundamente que a noite caiu.
E estou aqui. Sentada a teu lado no chão frio destas muralhas. Só venho limpar-te as lágrimas que escorrem pela tua face, invisíveis aos olhos. Só venho ficar a teu lado nas noites de trovoada. Para que não tenhas medo.
Não pares de correr, de enterrar as pegadas no areal. Mas corre quando o sol te beijar a pele. E quando estiveres cansado volta o rosto para o mar e procura de novo o horizonte.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Frágil...

Olhou em redor. Susteve aquele suspiro que lhe cortava a respiração e fechou os olhos.
Só depois respirou. Inspirou profundamente e sentiu o puro do ar exterior invadir-lhe o corpo.
Estava tudo tão calmo. Ou pelo menos conseguia não sentir nada, nem sobressalto, nem harmonia.
Sentou-se sobre o chão e fechou-se sobre si mesma. Agora, ali, nada mais a perturbava.
As horas passaram. As cores da natureza transformaram-se. Em si tudo se manteve inalterado.
O mundo parecia ter adormecido finalmente. Tal como suplicara nas horas de desespero.
Por fim algo serpenteou pelo seu olhar. No negro desenhado pelas suas pálpebras encerradas uma sombra fê-la despertar daquela apatia. A calma era, porém, tão magistral que preferiu não ter reacção.
Depois um arrepio surripiou pela sua pele. Algo pousara sobre o seu braço nu.
Num esforço do qual pensara não ser capaz segundos antes, ergueu o rosto e reabriu os olhos. A luz era intensa lá fora, fora do escuro no seu intimo.
Rodou o pescoço e contemplou o pulso magro. Uma onda de cor e seda mergulhou nos seus olhos cristalinos.
Uma borboleta.

As suas asas pareciam ir desfazer-se caso um sopro de vento mais forte lhe tocasse o corpo, mas o azul que emanavam era profundo. Forte.
Parecia tão frágil. Não teria medo de voar?
Ela olhou-a. Em breves segundos, a frágil borboleta levantaria voo da sua pele fria e enfrentaria o mundo que tanto a assustava.
Esticou o braço e ficou a mirá-la. Era deslumbrantemente bela e perfeita.

Será que o mundo lá fora a merecia?
As suas pequenas antenas rodaram na sua direcção. Por breves instantes teve a certeza de que o pequeno animal a observava. Depois soltou as asas sedosas e agitando o ar em seu redor deixou-se deslizar na brisa do anoitecer.
Ficou a observá-la como se olhasse a sua vida a serpentear à sua frente.


Na noite seguinte sentou-se sobre a pedra meio quente da rua. Não voltaria a fechar os olhos ao mundo que a abrigava.
Não o faria por nenhuma razão misteriosa. Queria somente que, quando a frágil borboleta a visitasse, os seus olhos encaminhassem as suas asas para o descanso da sua pele. Para que ambas partilhassem o momento de sossego no refúgio do mundo inquiridor.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Abraça-me

Aproxima-te. Não fiques tão distante, tão longe do alcance da minha mão.
Chega mais perto. Acosta-te ao meu coração. Só um pouco mais profundamente. Só para que te possa sentir mais dentro.
Dá mais um passo. Só mais um. Só então estaremos juntos o suficiente. Só então deixarei que o meu braço se estenda em frente do teu e te toque a pele arrepiada.
Ergue o rosto. Deixa que te leve esses sonhos cruéis. Deixa que a luz toque os teus olhos tão adormecidos no negro triste da noite. Deixa que os meus toquem os teus num sussurro que mais ninguém possa ouvir.
Toca a minha pele. Agarra a minha mão e aperta-a forte contra ti. Agarra-a com força, só um pouco mais. O que sentes? Protecção? Ofereço-ta sem preço. Ofereço-ta para que amanhã me a possas emprestar naquele momento difícil que sei que virá.
Agora estende o braço. Num último esforço, um último suspiro de alívio, numa busca de vida fora de ti. Pousa-a delicadamente sobre o meu ombro e chega-te mais perto.
Encosta o teu corpo ao meu e envolve-me nos teus braços quentes. Pergunta-me o que sinto…O medo desapareceu.
Sussurra-me algo ao ouvido. Palavras das quais não vá lembrar-me mais tarde, daquelas que durem só um momento mas que afastem os pesadelos.
Aperta o meu peito contra o teu e encosta o teu rosto sobre o meu ombro. Solta os teus medos e leva os meus. Podemos ficar assim eternamente. Neste abraço que mais ninguém compreenderá.
Fecha os olhos. Encosta as duas pálpebras adormecidas. Recorda o último abraço, a quentura que trouxe ao coração. É lá que sempre as inseguranças ficarão guardadas. O fundo da tua alma que partilhas de cada vez que este laço é apertado.