quinta-feira, 16 de julho de 2009

Frágil...

Olhou em redor. Susteve aquele suspiro que lhe cortava a respiração e fechou os olhos.
Só depois respirou. Inspirou profundamente e sentiu o puro do ar exterior invadir-lhe o corpo.
Estava tudo tão calmo. Ou pelo menos conseguia não sentir nada, nem sobressalto, nem harmonia.
Sentou-se sobre o chão e fechou-se sobre si mesma. Agora, ali, nada mais a perturbava.
As horas passaram. As cores da natureza transformaram-se. Em si tudo se manteve inalterado.
O mundo parecia ter adormecido finalmente. Tal como suplicara nas horas de desespero.
Por fim algo serpenteou pelo seu olhar. No negro desenhado pelas suas pálpebras encerradas uma sombra fê-la despertar daquela apatia. A calma era, porém, tão magistral que preferiu não ter reacção.
Depois um arrepio surripiou pela sua pele. Algo pousara sobre o seu braço nu.
Num esforço do qual pensara não ser capaz segundos antes, ergueu o rosto e reabriu os olhos. A luz era intensa lá fora, fora do escuro no seu intimo.
Rodou o pescoço e contemplou o pulso magro. Uma onda de cor e seda mergulhou nos seus olhos cristalinos.
Uma borboleta.

As suas asas pareciam ir desfazer-se caso um sopro de vento mais forte lhe tocasse o corpo, mas o azul que emanavam era profundo. Forte.
Parecia tão frágil. Não teria medo de voar?
Ela olhou-a. Em breves segundos, a frágil borboleta levantaria voo da sua pele fria e enfrentaria o mundo que tanto a assustava.
Esticou o braço e ficou a mirá-la. Era deslumbrantemente bela e perfeita.

Será que o mundo lá fora a merecia?
As suas pequenas antenas rodaram na sua direcção. Por breves instantes teve a certeza de que o pequeno animal a observava. Depois soltou as asas sedosas e agitando o ar em seu redor deixou-se deslizar na brisa do anoitecer.
Ficou a observá-la como se olhasse a sua vida a serpentear à sua frente.


Na noite seguinte sentou-se sobre a pedra meio quente da rua. Não voltaria a fechar os olhos ao mundo que a abrigava.
Não o faria por nenhuma razão misteriosa. Queria somente que, quando a frágil borboleta a visitasse, os seus olhos encaminhassem as suas asas para o descanso da sua pele. Para que ambas partilhassem o momento de sossego no refúgio do mundo inquiridor.

2 comentários:

Ricardo Pinto disse...

O mundo não merece a borboleta!

João Manhoso disse...

UAU