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segunda-feira, 14 de junho de 2010

O menino e o cavalo


Desta vez vou tentar não escrever de forma elaborada. Primeiro, porque de complexa já esta história tem muito, e, depois, porque há coisas que não precisam de palavras bonitas para se tornarem maravilhosas.
Este livro conta a história de uma família. Uma família em tudo igual a todas as nossas. Têm uma casa, uma vida, planos para o futuro. Algures no decorrer do seu casamento, nasce Rowan, um menino meigo e alegre que se desenvolve normalmente até completar três anos de idade. É nessa altura, que toda a “normalidade” desta família se transforma num emaranhado de diferença. Rowan é autista.
O período de revolta e vergonha passa, mas permanece a dor. Uma mágoa incontrolável por saberem que o seu filho nunca poderia dar-lhes alegrias tão simples, como simplesmente passear de mãos dadas, ou manter uma conversa coerente.
Mas este livro não conta essa história. Este livro é sobre esperança e sobre a capacidade de seguirmos o nosso instinto, se achamos que ele nos levará ao rumo correcto. Mesmo que aquilo que ele nos diga pareça uma loucura.
Este livro descreve a viagem que esta família fez até à região desconhecida da Mongólia. Uma zona virgem, onde consta terem nascido as primeiras espécies de cavalos. Rowan e os seus pais procuram ali o contacto com os cavalos, mas mais que isso, o contacto com as comunidades de xamãs. Procuram nas suas terapias realizadas à base se rituais naturais, uma forma de diminuir o grau de autismo da criança.
Não vou dizer a forma como a história acaba, mas posso dizer que, apesar de bastante céptica em relação a curandeiros, mudei completa e profundamente a minha visão sobre estes povos. Eu acredito na equitação com fins terapêuticos e este livro só veio fortificar a minha crença. Mas agora, passei a acreditar que há outras formas de terapia. Há coisas que simplesmente não se explicam e esta é uma delas.
Importa acrescentar que esta é uma história verídica. Durante a viagem um câmara acompanhou a família e gravou toda a evolução de Rowan, de forma a produzirem um documentário, caso se registassem mudanças no seu comportamento. Quem não tiver tempo para ler o livro, pelo menos dispense um bocadinho a ver o documentário. Garanto que vai mudar a vossa forma de ver muitas coisas.
Simplesmente uma das leituras mais comoventes que me passou pelos dedos...
[O site só deixa ver 72 minutos de cada vez. Para ver o fim do documentário é preciso esperar cerca de 20 minutos. Mas vale mesmo a pena ver como a história termina.]

domingo, 2 de maio de 2010

A sombra



Sufocam-me as tardes sem vento. Apertam-me a garganta estas manhãs sem silêncio e as noites em que as estrelas estão distantes de mais para que os meus olhos as possam ver.
Asfixia-me este ar irrespirável, esta rotina sem horas pelas quais o meu coração possa bater mais forte. Ferem-me a íris as luzes indiscretas que sobressaem por entre as frechas da janela.
Um dia vi-te caminhar assim. Dizias estar vivo, mas para o meu instinto aventureiro parecias um vulto de alguém, uma sombra que se limita a copiar os movimentos de um corpo que respira.
Dizias que não, mas era isso que eras. Mais um clone por entre os tantos que vagueiam pelas ruas. Hoje senti-me assim. Mais uma.
Será que tem de ser assim? Será que temos de seguir os passos dos outros para que o ar nos percorra as veias?
Eu acreditava que não. Acreditava que utilizaria estas mãos para construir sonhos e as palavras para inventar histórias. Daquelas que nunca ninguém contou. Aquelas que ninguém ouviu. Eu acreditava que o oxigénio seria eterno e sempre nos renovaria os pensamentos.
Mas hoje, senti-me sufocar. Dirás que não respirei o suficiente. Dirás que basta que continue a respirar, como sempre. Mas é que hoje, quando o fiz, o ar apertou-me a garganta e acumulou-se no meu peito.
Lembras-te daquele jardim onde te deitaste a tentar adivinhar os desenhos das nuvens que corriam no céu? Lembras-te daquilo que sentiste?
Eu recordo-me que parecias leve. Quase diria que conseguias flutuar. Parecias solto, dono de ti. Livre. Naquela noite, deitaste sobre as dunas na praia e viste as estrelas. Vimo-las juntos. Sabias os seus nomes, as constelações, as galáxias. Naquela noite conseguias vê-las a todas.
E eu não acredito que o céu da noite de hoje tenha mudado. Mas eu não consigo encontrar uma única estrela. E sei porquê. Porque de tarde, limitei-me a olhar as nuvens pela janela, em vez de as ver passar, deitada naquele relvado.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ir



Apetece-me apanhar um comboio sem destino. Um daqueles que partem uma vez na vida, uma única vez.
Depois, sentar-me num dos lugares perdidos no fundo da última carruagem, aquela que é levada por todas as outras, aquela que nos dá a sensação do passar lento do tempo. Encostar-me à janela e pousar a cabeça sobre o vidro. E então, simplesmente não pensar em nada. Deixar que o tempo passe por mim.
Apetece-me sentir isso mesmo. Fechar os olhos e sentir que o mundo se mexe mas eu permaneço igual. Sentir que, por uma vez, não vale a pena. Sentir que nada vai mudar quando eu abrir os olhos, dias depois.
É que era isso que queria... Ir, sem que ninguém notasse ou soubesse.
Talvez bastasse deitar-me e tentar sonhar. Talvez dormir fosse o bastante. Mas não é isso que quero. Não quero adormecer enquanto a vida pulsa ritmadamente. Queria somente fechar os olhos e não a ver passar. Por uns instantes. Uns momentos de descanso, enquanto sei que todos os outros correm para não perder um minuto.
Mas é que, às vezes, seria tão bom poder descansar na margem da estrada, sem que ninguém nos obrigasse a andar. Poder parar para ver tudo com atenção, com os olhos de quem não tem pressa ou compromissos. Viver como um sem-abrigo. Um nómada. Sim, acho que é isso. Às vezes, gostava de ser como eles, como esses que descobrem o mundo, de mochila às costas. Parecem tão felizes...
Não é que não queira a tua companhia. Mas, com o tempo, vamos aprendendo a respeitar a solidão e a cumplicidade que ela nos empresta. Não fomos feitos para estar sós. Mas é impossivel apreciar a proximidade de outro alguém, sem que tenhamos exprimentado a sua ausência.
E eu sinto falta. Sinto falta de ouvir os meus passos. Sozinha. E rodeada do mundo.