terça-feira, 4 de agosto de 2009

Origens

Origens.
Procuro esta palavra no dicionário. Não anseio pelo que vou encontrar, nem muito menos espero descobrir algo que já não antes soubesse. No fundo, esta é somente mais uma palavra das muitas que ouvimos toda uma vida, sem que deixemos uns segundos para nela reflectir.
Finalmente encontro-a e, tal como adivinhava, nada no seu significado me faz compreendê-la melhor. Causas, Procedências, Fontes e umas quantas outras palavras que, tal como a primeira, nos mergulham num mar de significados sem, no entanto, qualquer sentido aparente.
Afinal por que razão existem estas palavras? Todas elas, os milhares de junções de letras perdidas nessas folhas, algumas com idades ancestrais, outras recentemente acrescentadas ao nosso vocabulário. Algumas são certamente quase inúteis ou simplesmente ausentes de conteúdo; mas há outras. Existem palavras que, por mais tentativas em descobrir-lhes o sentido, nunca se nos mostrarão totalmente se não quando desvendadas de outra forma, com a alma; há palavras que nenhum dicionário consegue aclarar, que nenhuma caligrafia poderá reproduzir perfeitamente; palavras que, porém, são tudo o que temos, o que fomos e seremos. E foi isso que acabei por descobrir ao fechar o dicionário ingenuamente aberto; descobri que há coisas que os livros não explicam, que só o mundo e a vida podem decifrar.
Origens.
Pensando bem, que estranha palavra, essa, que nos acompanha toda uma vida; que nos rodeia o horizonte e preenche o coração. Uma palavra que foi o nosso início e se atreve a desenhar-nos o futuro; uma mera palavra que, apesar de fazer de nós quem somos, é muitas vezes posta de parte como um mal a esquecer, um passado a deixar lá atrás. Felizmente há alturas em que ela se cansa de estar encerrada nesse baú e salta cá para fora, diante ao olhar. Mesmo quando menos o quisermos, alguma vez ela virá à nossa procura. Tal como o dia que nasce escuro e se põe em crepúsculo novamente, algum dia, também nós somos obrigados a voltar a esse princípio, ao nosso berço.
Origens.
Somos nós próprios; nós e o único lugar capaz de nos fazer sorrir verdadeiramente; o único capaz de brotar as lágrimas mais genuínas. Aquele sítio, onde o nada que somos se une com o tudo que o Mundo é.
Também eu conheço um lugar assim.
E esse não mora longe, nem muito menos se encontra encerrado num livro qualquer. Por mais distante que estivesse de mim seria sempre possível chegar-lhe com as pontas dos dedos, com a ponta do coração. Lá, sei que nunca estarei perdida. Naquele recanto do meu mundo sempre encontrarei a chave dos sorrisos.

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